Pontes são magnificas, viadutos são mixurucas. Pontes ligam lugares que, sem elas, continuariam melancolicamente separados, viadutos transferem congestionamentos de um lugar para outro. Existem muitas pontes famosas: Golden Gate, em São Francisco; Dos Suspiros, em Veneza; Ponte Alexandre III e Ponte Neuf, em Paris; Ponte do Brooklin, em Nova York, Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro; Ponte Pênsil, em São Vicente; Ponte Estaiada, na Globo; e por ai vai. Viadutos, quando muito, ganham apelidos pejorativos: Minhocão, São Paulo; Cebolinha, São Paulo, Lá Vai Um, Rio de Janeiro; Viaduto Sonrisal, em João Pessoa; Mijadão, Brasília; devem existir apelidos piores, eu é que não conheço.
Há filmes famosos com nome de pontes: A Ponte do Rio Kwai, As Pontes de ToKo-Ri, As Pontes de Madison. Não conheço nenhum filme com nome de viaduto.
Mas hoje o que importa é a inauguração das Pontes de Dona Clara. Pra quem não sabe, Dona Clara é minha sogra e tem 85 anos de idade. Como quem procura, acha, Dona Clara achou entupimentos nas coronárias que só poderiam ser resolvidos com a construção de pontes de safena (revascularização, na linguagem dos deuses) ou mamárias para desviar o fluxo sanguíneo dos perigosos bloqueios e evitar o iminente infarto. Foi ao hospital, inicialmente para um cateterismo, aquele exame que enfiam um tubinho pela tua virilha e vão até o local do entupimento para olhar de perto. Graças à burocracia do plano de saúde, à lerdeza dos hospitais e à empáfia dos médicos, esperou uma semana pela porra do exame. Feita a avaliação veio a sentença: Dois entupimentos mortais, sem nenhuma possibilidade de tratamento que não fosse o das pontes. Dona Clara resolveu em dois minutos, heroica: Vamos fazer logo este negócio!
Saiu hoje da UTI, ainda grogue dos remédios e sob impacto do atropelamento por um caminhão, que é como definem esta cirurgia aqueles que já passaram por ela. Mas saiu animada, Dona Clara. Pergunta pelos netos, dá conselhos às suas tresloucadas filhas, preocupa-se se os acompanhantes comeram, estas coisas de mãe e avó. Espero que a convalescença seja breve e que ela logo esteja pimpona e lampeira, como é de seu feitio. De qualquer forma, o que fica desta situação é que Dona Clara é fodona, no bom sentido.