quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Trágicas Tragédias.

Todo ano é a mesma merda. Janeiro chega e traz uma quantidade de chuva que, no dizer dos políticos, fica sempre muito acima da média. Dai a acontecer uma desgraceira é um passo. São Paulo (para alegria do Datena e do Comandante Hamilton), Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro, na verdade a catástrofe costuma ocorrer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Mortos, desabrigados, filhos sem pais, pais sem filhos, um horror.
Este ano (2011), até meados de janeiro ao menos, parece que as piores ocorrências foram nas cidades serranas do Rio de Janeiro. Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, e outras cidades menores nas imediações, foram assoladas por temporais terríveis, enchentes, desabamentos, barrancos despencando, pedras enormes destruindo o que encontrassem pela frente, o verdadeiro Apocalipse. Ao menos para quem estava lá.
Não vou comentar os acontecimentos porque não tenho estomago nem competência para tanto. Melhores do que eu já o fizeram. Gostaria, isto sim, de dar minha opinião sobre o comportamento da mídia nestes casos e que costuma provocar em mim reações que vão do emputecimento absoluto às mais desbragadas gargalhadas, mesmo que a situação não seja propicia.
A coisa se passa, mais ou menos, assim:

    • Ocorre a desgraça.
    • A imprensa fica sabendo e envia seus jornalistas para cobertura.
    • Começam a chegar as primeiras notícias, normalmente desencontradas, sobre o tamanho dos eventos, locais afetados, número de mortos, por ai.
    • À medida que a situação vai ficando mais clara para os profissionais da noticia, relatos mais pungentes são feitos, detalhes escabrosos são mostrados, fotos horripilantes são publicadas. A população dos locais que não foram atingidos começa a sentir-se mal por não ter sofrido os mesmos males e começa a mobilizar-se para ajudar aos flagelados.
    • Dependendo do tamanho da encrenca, são enviados para o local dos acontecimentos os melhores talentos da emissora. Este ano tivemos na Serra Fluminense a Bela Renata, o Vivaz Evaristo, o Experiente Burnier, entre outros craques. Os Bonner devem estar se guardando para o Fim-do-Mundo propriamente dito.
    • A mídia começa a mostrar a organização destes mutirões de ajuda e o espirito humanista dos voluntários envolvidos. Lagrimas são comuns nesta matérias.
    • Aparece um filho-da-puta que rouba algumas doações. Afinal é para isso que servem os filhos-da-puta, não é mesmo?
    • São organizados debates com especialistas sobre o assunto, seja ele qual for, para apontar as falhas que ocorreram e que, se fossem prevenidas a tempo, poderiam ter minimizado a tragédia da vez.
    • Não sei aonde estes especialistas ficam arquivados durante o resto do ano.
    • Quando o governante dá entrevista é tratado com deferência e o repórter mostra-se compreensivo com os esforços feitos pela sua gestão, apesar do descaso de todas as administrações anteriores desde Pedro Alvares Cabral.
    • Caso o governante não conceda entrevista é chamado de todos os nomes pelo apresentador do programa, desde indiferente, inepto, insensível até corrupto e ladrão. Este adjetivos são prontamente retirados, caso a tal entrevista ocorra em outro momento.
    • Detalhes pitorescos são divulgados: Resgates heroicos; Salvamentos no último segundo; Casas desabando; Animais abandonados; Sempre aparece o cão à beira do túmulo de seu dono (mesmo que não seja verdade).


A tragédia começa a perder força junto aos espectadores. Os jornalistas mais importantes começam a ser retirados da frente de combate, restando aos novatos e menos conhecidos continuar amassando o barro e a tomar chuva naquele quinto-dos-infernos.
O destaque dado ao assunto começa a diminuir, passa a ocupar espaços menores nos telejornais, perdendo até para a entrevista do ator / atriz da nova novela e para a análise do último jogo entre Madureira e Olaria. Pronto, o interesse morreu, não há mais notícias a respeito.

Mas o problema não morreu e voltará, com mais força, no ano que vem. A população continuará se instalando em áreas de risco, os governantes continuarão cobrando impostos deles todos, como se estivessem instalados na Av. Paulista ou na Av. Vieira Souto. Algumas melhorias serão feitas, talvez um novo posto de saúde, uma escola, uma pracinha, benesses que serão, é claro, destruídas na próxima enchente. Vide Jardim Pantanal – São Paulo – SP.

Para finalizar darei aqui uma informação em primeira mão: Em janeiro do ano que vem vai chover pra caralho!