sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pode Funcionar.

Fala a verdade, você não está com o saco cheio das notícias sobre roubalheiras dos políticos? Eu estou. Não agüento mais tanta notícia sobre desvios de verbas, malfeitos, vendas de votos e de apoio, maracutaias diversas, estas bostas. E não importa o partido, não escapa nenhum, de direita, de esquerda, de centro, de cima, de baixo, do lado, todos aproveitam quando surge a oportunidade e metem a mão. E o que mais me fode a puta da paciência são as explicações do malfeitor da vez. Todos eles acham, com razão, que somos imbecis.

Stanislaw Ponte Preta disse: “Ou restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”.

Nosso sistema político / eleitoral já provou ser inadequado. Ou você acha bom um sistema que elege e reelege Sarney, Renan, Collor, Maluf, Netinho, Paulinho da Força, Demóstenes, Agnelo Queiroz, José Roberto Arruda, Eduardo Suplicy, Ideli Salvatti, Tarso Genro e outros parecidos ou, se houver, piores?

Apliquei, então, o famoso conceito filosófico “Merda por merda, truco!”, e a idéia que tive, não sei não, pode funcionar. Trata-se do sensacional método do Sorteio Eleitoral. Calma, vou explicar.

Poderíamos acabar com todos os partidos políticos, com a maldita propaganda política obrigatória, com as promessas mentirosas, com a necessidade de verbas de campanha, a economia seria de tal monta que até me surpreendeu pela simplicidade da proposta.

Os cargos políticos do Brasil seriam preenchidos pelo mais democrático dos métodos: o sorteio. Todos os brasileiros maiores de idade, portadores de um CPF e de uma Carteira de Identidade seriam, por assim dizer, candidatos às eleições municipais, estaduais e federais. Poderíamos começar com o Legislativo e, aos poucos, estender o processo aos outros Poderes da República. Simples assim, na época das eleições seria realizado um Mega Sorteio, com base no CPF de cada cidadão ou cidadoa, para preenchimento dos cargos de Vereadores, Deputados Estaduais, Deputados Federais e Senadores. Este democrático método daria a todos a mesma chance de se locupletar com o erário, já que não espero que a moralidade seja restaurada. Mais fácil que ganhar na Mega Sena.

A renovação seria automática, afinal ganhar duas vezes no sorteio seria muito difícil, só o deputado João Alves era capaz destas proezas. A qualidade de nossas casas legislativas iria aumentar muito, pois esta forma de escolha permitiria que até alguns brasileiros honestos fossem sorteados, já imaginaram? Passado o período correspondente, novo sorteio e teríamos políticos novinhos em folha, não é uma beleza? E isto sem gastar um puto com campanhas, folhetos, camisetas, musiquinhas insuportáveis, estas coisas que me enchem o saco.

Rapaz! Quanto mais eu penso, mais eu gosto da idéia. Só não sei como amarrar o sino no rabo do gato. Mas vou pensar em alguma coisa.
 

domingo, 1 de abril de 2012

A Tristeza Dos Meus Irmãos.

Meus irmãos Sílvia, Mirinha, Raphael, Ricardo e Marcelo andam muito tristes. A mãe deles está muito doente, caída em uma cama há um ano, sem reação a nada e, parece, não vai durar muito. O sofrimento deles é visível, dá até pena. Alguns perguntarão “Mas a mãe deles não é a sua?”. É e não é.

Dona Delmira Martins Alves Aguilar, nascida em 18/11/1921 em Vila Real, Trás dos Montes, Portugal, pessoa física, é a mãe de todos nós. Mas a entidade emocional que habita os corações e mentes, o consciente, o subconsciente, o inconsciente, o escambau, de todo mundo, é diferente para cada um.

Minha mãe é SÓ MINHA, ninguém tasca! Convivo com esta mulher há mais tempo que qualquer um deles, são sessenta e sete anos de amor, amizade, paciência, resignação, desapontamento, tudo que vocês podem imaginar que ocorre entre um filho e sua mãe. Gostava quando ela me dizia algum ditado português. Um dos meus preferidos é: “Menos dá uma fraga, mais mija-se nela ao pé”.

-         O que é uma fraga?
-         Uma pedra, ora pois.
-         Mas então o que significa esta expressão, Dona Delmira?
-         Muito clara, não vês?
-         Não vejo.
-         Uma fraga é uma pobre pedra, que não dá nada, nada lhe cresce em cima, é só desamparo.
-         Mas então porque lhe mijam, mãe?
-         Para piorar o que já é ruim.
-         Acho que entendi: Quanto mais pra baixo alguém está, mais lhe pisam em cima. É isto?
-         Demoraste, não é?

Alma lusa, sem muitas alegrias aparentes, nunca vi minha mãe cantarolando alguma música, achava bobagem. Tinha tantas coisas para resolver que não iria perder tempo com estas merdices. Sete filhos, um marido meio tresloucado (como todos), mas apaixonado por ela, uma falta de dinheiro crônica que mais parecia uma das pragas do Egito, a vida dela não foi moleza. Chegou ao Brasil com treze anos, mais ou menos, provavelmente muito assustada pela mudança. Logo começou a trabalhar e, de uma forma ou outra, nunca mais parou. Era uma mulher linda. Linda não, lindíssima! Tinha razão o Sr. Raphael em casar-se logo com aquela portuguesinha que morava na Vila Lameirão, travessa da Rua do Gasômetro, aonde morava meu pai.

Meus irmãos reclamam que eu sou o queridinho dela. Sou mesmo, que se lasquem. No almoço alguma coisa não muito do meu agrado, ela sacava da cozinha: “Mauricio, quer um ovo frito?”, que meus irmãos logo transformaram em “Mauricinho, quer um ovo frito”. Invejosos! Ela nunca me chamou por este diminutivo infeliz que assumiu o significado de alguém muito formal e arrumadinho. Mas comi muito ovo frito, sim senhor. Até seus oitenta e seis ou oitenta e sete anos tomava metrô e ônibus e vinha me visitar a quilômetros daquela lonjura da Cantareira, aonde ela se enfiou, talvez saudosa de sua aldeia natal. Fazia o melhor bolinho de bacalhau que algum ser vivente terá, jamais, comido. E era um saco, ela fritando e aquela matilha de filhos e marido comendo a produção antes que chegasse à mesa. E o arroz de polvo, meu Deus! Mas ela mesma não curtia muito estas coisas, cozinhava para os outros.

Alguém mais racional me dirá: “Mas sua mãe está com noventa anos, viveu bastante, mais que a maioria”. Obviedade idiota, como diria Nelson Rodrigues. Claro que ela não é mais jovem e já viveu muito, mais do que eu, provavelmente, viverei. Mas isto não evita que eu fique muito triste pela situação dela, eu estou muito triste. Muito triste não, eu estou TRISTE PRA CARALHO que é o maior aumentativo que eu conheço, eu e minha linguagem de cais do porto. Nunca imaginei que esta situação dela fosse me deixar com esta enorme sensação de desamparo, como se fosse uma criança, eu já um velho (ou quase). Peço a todos os Deuses, nos quais não creio (mas espero estar errado), que se compadeçam dela e de sua situação terrível, exatamente o que ela mais temia – a dependência total dos outros e lhe permitam encerrar esta viagem e iniciar sua navegação de volta para casa. As estrelas.
Minha amada Dona Delmira, minha mãe, meu primeiro amor, minha querida.