sábado, 22 de junho de 2013

Mais uma do SB.

Meu cachorro, Seu Bosta, doravante simplesmente denominado SB, é de lascar. Eu estava vendo TV outro dia quando o peralta entra na sala, segurando um iPad novinho, usando óculos e de meias. Olhei espantado e ele foi logo explicando: Estou com frio, já não enxergo tão bem e ganhei este tablet num concurso literário da ABLA – Academia Brasileira de Letras Animais, na qual sou colaborador do suplemento quinzenal Coisas Que só os Bichos Vêem. Satisfeito?

Boquifechei-me e perguntei o que ele queria então, já que estava tão superior. Respondeu que estava preparando nova matéria para a ABLA e, com vistas à sua candidatura a uma cadeira permanente entre os Animais Imortais, que pelo lamentável falecimento de um escritor e filósofo Pastor Alemão estava vaga, queria caprichar. Manda, falei. E ele mandou.

Seguinte, disse SB, gosto de criar palavras que uso em minhas matérias e que vocês humanos não usam por dizerem que estão erradas. Já usei exclusive, da qual gosto muito, para significar algo ou alguém que fica de fora. Todo mundo usa a palavra inclusive, muitas vezes de maneira errada, mas exclusive não pode? Por quê? Veja como fica bom: Todos foram à festa, exclusive eu. Pronto, nenhuma explicação adicional é necessária. Os editores da Coisas Que Só os Bichos Vêem adoraram. Outro exemplo, elergúmeno, significando um elegante energúmeno, figura tão frequente em política, já usei também imboçal, de óbvia conotação dupla, ou quer que eu explique.

Declinei da gentileza, espantado, e perguntei no que poderia ajudar. Ele, solene, disse: Estou querendo lançar a bela “analfabesta”, o que você acha? Não entendi o significado, disse eu, e ele com ar cansado como convém aos intelectuais quando conversam com os mais rudes, explicou. Analfabesta é aquele cara que não sabe ler, não por não conhecer as letras ou as palavras formadas pela junção de algumas delas, mas sim por não entender o que está escrito ou, pior, por fazer interpretações equivocadas do que quis dizer o autor da frase. Exemplos pedi eu, ele pensou um pouco e disse: Camarada lê notícias que comprovam que determinado cidadão (ou cidadoa) cometeu algum deslize passível de punição, merecida por sinal, mas por acreditar em desculpas as mais esfarrapadas possíveis releva e acha que o meliante deve ser perdoado, talvez com um leve puxão de orelhas. Falando nisso, porque os humanos gostam de usar estes puxões como forma de castigo, não seria melhor uma boa mordida? Continue, pedi, e ele foi em frente. Vossos políticos mentem pra cacete, desculpe a linguagem, e vocês continuam votando neles por anos e anos seguidos. Não pensam em não eleger novamente o criminoso, ou há outros interesses que não percebo? Não sabia o que dizer, o bicho estava coberto de razão, mas pedi mais exemplos, que vieram. Vejo pessoas que simpatizam tanto com determinados partidos políticos que, mesmo com a condenação pelo Supremo Tribunal Federal de membros deste mesmo partido por crimes cometidos, continuam achando que tais indivíduos não devem ser punidos, nem com prisão e, mais espantoso, nem com a perda de mandatos no congresso. Afinal Supremo não significa o maior, o último, o final? Ainda pior, os reelegem. São ou não são analfabestas? Ministros e Secretários defenestrados por uma janela do governo, acabam voltando de uma forma ou outra e indicam sucessores. Quem se informa a respeito e concorda com isto não é um analfabesta de primeira? As propagandas dos partidos políticos, todos, são tão mentirosas, tão exageradas e os analfabestas acreditam e votam naqueles Pinóquios cujos narizes não crescem. Quer mais? 

Eu já estava sem palavras, visto que os argumentos de SB eram irrespondíveis. Concordei então: acho que você deve adotar esta nova palavra já que seus editores incentivam sua criatividade, ela tem força e depois de compreendida tem alto grau de clareza. Gostaria, além disso, de passar a usá-la entre os humanos, com sua permissão é claro.

Feliz com minha opinião, só lembrou que os humanos são uns bichos estranhos, nenhum outro bicho gosta muito deles. Alguns gostam, mas é pra comer, literalmente falando. SB então me autorizou a usar analfabesta e retirou-se para terminar o artigo que estava escrevendo. Se for eleito membro permanente da ABLA vai ficar exibido pra cachorro. Vou pedir o iPad dele emprestado de vez em quando, será que rola? Ele é ciumento das suas coisas, vamos ver.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Movimentos Sociais – uma opinião.

Seguramente não sou o mais velho dos que transitam por estas tais redes sociais, mas com certeza não sou dos mais novos. Segundo os cálculos do Dr. Dráuzio Varella, o Vampiro de Hipócrates, tomando por base os maus hábitos que tive, tenho, ou terei, devo estar perto dos 138 anos já que cada desvio da estrada da saúde nos custa alguns anos de vida. Pedirei minha inscrição no Guiness Book, quem sabe cola.

Mas o que me traz aqui hoje é outro assunto, sobre o qual gostaria de tentar contribuir um pouco, jogando sombras nestas luzes todas que nos alumiam.
São as tais “Manifestações Sociais” que demoraram, mas chegaram a São Paulo, através de uma pretensa reclamação sobre o aumento dos preços das passagens de ônibus e metrô, de R$ 3,00 para R$ 3,20. É pouco, é muito, não é este o ó do borogodó. Fazer contas é fácil, qualquer um faz, e está claro que estes reajustes estão abaixo da inflação do período decorrido desde o ultimo aumento. Não foi praticado antes, o tal aumento, por pedido expresso da Dama do Planalto, visando evitar que isto interferisse nos índices de inflação e, assim, prejudicasse os candidatos de seu partido (do dela) nas eleições para as prefeituras. Não sei se funcionou geral, mas São Paulo elegeu um prefeito da escolha dela, o que nem é importante para o que gostaria de comentar.

Tenho percebido muita confusão neste assunto das manifestações que vem ocorrendo, gente a favor, gente contra, gente mudando de opinião, gente que nem sabe o que está ocorrendo, enfim tudo normal. Mas percebo, principalmente nos mais jovens, o aparecimento de algumas justificativas que me incomodam e que gostaria de comentar.

Aos Manifestantes, Simpatizantes e Afins:

1 – “O incômodo causado pelas manifestações é um pequeno preço a pagar pelo direito de reclamar e chamar a atenção para os graves problemas que assolam o país. Insegurança, trânsito, transporte coletivo de má qualidade, falta de perspectivas, falta de moradia, o cacete a quatro”.

Pequeno pra quem, caro manifestante? Para quem levantou as cinco da matina, pegou três conduções para ir ao trabalho, chacoalhou duas horas dentro de bumbas lotados, já chegou morto ao trabalho? Para quem está saindo correndo do trabalho para chegar à faculdade, paga, é claro, já que a USP é reservada aos que vieram de berço esplendido e fizeram bons colégios, para tentar melhorar sua vida? Para quem está com pressa de levar alguém ao médico, na região da Av. Paulista, que concentra os maiores e melhores hospitais da cidade? Estamos, até que a coisa mude, numa democracia representativa, nós elegemos nossos representantes. Vá encher o saco de seu vereador, seu deputado, seu senador, os caras que você escolheu para te representar. Não lembra quem foram? O cara é ladrão? Escolha melhor da próxima.

2 – “A PM reprimiu com violência a manifestação legítima do povo em defesa de seu sagrado direito de se manifestar”.

Que povo mano? Compareceram cinco mil, dez mil, vá lá, vinte mil? Quantos não foram? Te ajudo com as contas: Considerando que quatro ou cinco milhões de pessoas circulam por São Paulo na hora do rush, deixo por quatro, então três milhões, novecentos e oitenta mil pessoas não compareceram. Estavam ocupadas tocando suas vidas, da forma que conseguem. No primeiro dia a PM só observou e vocês quebraram estações de metrô, pontos de ônibus, fachadas de bancos e lojas, carros particulares, entre outras coisas. Quem ganhou o quê? A cidade (nós, o povo) vai gastar para reconstruir e reparar os danos. A PM foi provocada, até espancada, para que vocês conseguissem imagens da chamada repressão, para divulgação e propaganda da glória do movimento.
No segundo ou terceiro dia, o Batalhão de Choque da PM desceu o sarrafo, para impedir o acesso à Av. Paulista e maiores danos à cidade. Não podia? Quem defende os direitos dos milhões que não concordam com vossas opiniões e anseios?

3 – “Pessoas inocentes foram presas e feridas, inclusive vários jornalistas”.

Cada profissão traz embutido seu grau de risco. Pedreiros e trapezistas despencam e morrem, domadores são comidos pelos seus animais de estimação e alguns correspondentes de guerra morrem nas respectivas. Fala sério, acharam que sairia de graça? Não tive a honra de ser jornalista, mas recebi a graça de ter um filho que é. Eu ficaria desesperado se ele sofresse algum dano na cobertura de algum assunto em que estivesse envolvido, mas este é o seu trabalho não é? Algumas pessoas, os chamados transeuntes, também foram feridas nas manifestações. Culpa de quem? Da PM? Dos manifestantes? De ambos? Voto no “Ambos”.

4 – “O movimento não pode ser responsabilizado pela existência de cinco ou dez por cento de vândalos na multidão. As multidões são incontroláveis”.  

Não me diga! E vocês não sabiam disto? Então na outra multidão, aquela da PM, deve haver o mesmo índice de tresloucados, pois não? Ou a PM só serve para prender assaltante de banco, de restaurante, de sinal de trânsito? É função da polícia, sim, preservar a segurança dos demais cidadãos, dos bens públicos e não permitir que a cidade pare pela vontade de alguns poucos. Se não conseguem segurar seu gado, não soltem no pasto. Ou o objetivo é só assustar?

5 – “Estes Movimentos Sociais são a nova forma, legítima, do povo se manifestar e expor seu descontentamento, em todos os países”.

Nem nova, nem legítima. O partido que está no poder no Brasil há mais de dez anos foi useiro e vezeiro desta estratégia. Agora não sabe se reprime ou se adere. Os países em que estas manifestações ocorrem com mais frequência, se estão conseguindo algum resultado na redução de seus problemas, é apesar delas e não por causa delas. Presta atenção. Estas expressões das chamadas Liberdades Democráticas só ocorrem nos locais em que os regimes pretendidos pelos beneficiários de tais práticas ainda não foram implantados. Quando são, a moleza acaba. Quer exemplos ou quer que eu desenhe? Quem está por trás aqui? Quem ganha? Já se perguntou, caro manifestante?

Existem leis aqui, sabia? Boas, más, úteis e inúteis. Foram vossos, nossos, representantes que as votaram. Quer mudar? O caminho é: Vote melhor, cobre seus representantes, vá ao Congresso em Brasília, vá à Assembléia Legislativa, vá à Câmara dos Vereadores, vá aonde quiser, mas use os canais legítimos que estão à sua disposição. E jamais imagine que você tem o direito de tirar os meus direitos. Não tem.


Abraços.