quarta-feira, 15 de junho de 2011

Escalando o Everest.

Viver é mais ou menos como escalar o Everest, só que neste caso você não volta para o acampamento base. No outro caso às vezes você também não volta, mas isto é outra história. Quando começa a escalada, todos na planície ainda, é uma beleza. Caminhada fácil, temperatura amena, até os trinta e poucos, quarenta anos é moleza.

Depois as ladeiras começam a ficar mais íngremes, mas ainda dá pra levar. Cansa um pouco, alguns tropeções, leve dor nas pernas, mas a paisagem é boa. Olhando para cima vê-se aquela montanha majestosa, linda, só nos esperando.

Lá pelos cinquenta é que começa a ventar mais forte. Subidas mais difíceis, ou você que está mais cansado, não sei. O frio aumenta, já não dá pra ver os companheiros todos, parece que alguns foram por outras trilhas.





É lá pelos sessenta anos que a coisa começa a ficar feia, aos setenta, então, nem te conto. Você fica sabendo daqueles que caíram da porra da montanha, escorregaram neste maldito gelo ou não viram algum buraco. A turma da escalada diminui, você começa a achar que não deveria ter vindo, seria melhor ter ficado em casa tomando um whisky e ouvindo Ray Charles, Errol Garner, Eric Clapton, Tom Jobim ou outros do mesmo nível (existem poucos, eu sei). Mas agora é tarde, não dá pra voltar, tem que ir até o fim desta maldita subida. Os pulmões ardem e você pensa: “Queria saber quem foi o filho-da-puta que me ensinou a fumar”. Já não dá para enxergar muito bem o fim da subida nem o topo desta bosta de morro, os olhos já não são os mesmos. Qualquer nuvem parece ser o início de uma puta tempestade, o que nem sempre acontece. Algumas são realmente fortes, mas quase sempre o medo é maior que a assombração. Mas e este maldito vento gelado, quando vai parar? E estas esperanças mortas pelo caminho? Você lastima não ter feito exercícios quando te recomendavam, mas agora não dá mais, a época já passou. Dói tudo. Pior são as coisas que você esqueceu em algum dos acampamentos e não dá para voltar pra buscar, ninguém volta – nunca.

Estou com a impressão que esta merda não vai acabar bem. Na verdade gostaria de voltar ao início, ao primeiro acampamento, para planejar melhor esta aventura, mas não vai dar. O negócio é ir tocando em frente e ver até aonde eu conseguirei chegar. Se ao menos o tempo melhorasse, mas este frio da porra só aumenta. Bem que minha mãe avisou “Menino, leva o casaco”, eu é que não dei bola.