Já comentei dos meus três netos, Vitor (9), Nathalia (8)
e Henrique (5). Com eles brinco, invento histórias assustadoras que não
assustam ninguém, conto algumas lorotas e faço minhas observações sobre a
natureza das crianças, diferenças de comportamento e outras bobagens para
ocupar meu tempo. Mas conviver com ele é uma delícia mesmo.
Hoje queria comentar as diferenças que vejo entre meninos
e meninas, no caso Vitor e Naná, quanto à posse e aos cuidados com material
escolar. Parecem seres de planetas diferentes, tal a disparidade com estes
cuidados.
Nathalia fica conosco todas as quintas-feiras à tarde,
período em que não tem aula. Almoça, vê TV, e chega o momento da lição de casa,
tarefa em que me cabe acompanha-la. Ela, muito organizada, coloca sobre a mesa
os livros e cadernos necessários às tarefas do dia e, “voilà”, seu super
estojo. Sim, por que o estojo da Naná é digno de registro. Sua mãe é fissurada
em papelarias e material escolar desde pequena. Não consegue resistir a uma
novidade, um jogo de canetinhas fosforescentes, uma borracha infalível, um
apontador eletrodinâmico, se é que existe isso. E a filha, é claro, está me
saindo à mãe. O tal estojo tem várias divisões, cada uma com um grupo de coisas
absolutamente necessárias ao bom exercício da missão “Lição de Casa”. São
grupos de lápis de cor (acho que o plural deveria ser lapizes de cores, seria
mais legal), canetinhas, borrachas, apontadores, lápis para escrever (os
antigos n° 2) e por ai vai.
E Naná usa todo este material com uma organização
irritante. A cada coisa que escreve ou pinta, ela pega o lápis no estojo, usa e
guarda no local correto, mesmo que vá usa-lo novamente em seguida. Faz sua
lição com um capricho danado, obedecendo às orientações, nem sempre muito
compreensíveis, de suas professoras. Exemplifico: Por que diabos uma criança
tem que escrever a primeira letra de cada frase com lápis de cor e as outras
letras com lápis comum? Decerto para me enlouquecer, já que minha lindinha
escolhe a cor, pega o lápis, escreve a primeira letra, guarda o lápis colorido,
pega o n° 2 e continua a frase, num processo que parece não ter fim. Como ela
tem muitos lápis de cor, com características diferentes, as escolhas são sempre
um processo difícil para a pobrezinha. Mas a lição sempre sai, caprichada e bem
feita.
Com meu neto Vitor não tenho esta atividade com muita
frequência, já que ele fica na escola em horário integral todos os dias e faz a
lição de casa lá mesmo, mas algumas vezes, por razões diversas, me coube acompanha-lo
nesta atividade.
E ai é que vem a diferença. Vitor tem um pequeno estojo
onde nem sempre encontra um cotoco de lápis n° 2 com a ponta rombuda, e um
único (é isso mesmo, só um) lápis de cor, aquele que ele não perdeu (ainda).
Borrachas não há, já que as várias que sua mãe lhe comprou ou as muitas que a
avó lhe deu sumiram. “Acho que meu amigo pegou e não me devolveu, Vô”, comenta
sem a mínima preocupação com o assunto. Puxa as folhas da lição de casa da
mochila, devidamente amassadas, e faz a tarefa em tempo recorde, já que quer
fazer coisas mais interessantes. Não me entendam mal, Vitor é excelente aluno,
menino brilhante e esperto, mas considera a missão “Lição de Casa” indigna de
um super-herói ocupado como ele.
Henrique, ainda pequeno, é muito caprichoso em suas
pinturas e tem muita vontade de aprender coisas que o irmão sabe e ele ainda
não. Tem muita curiosidade e gosta de fazer contas e escrever, mas ainda não
definiu como será seu comportamento quando for, digamos, mais maduro, como seu
irmão e sua prima.
Acho que esta é uma diferença entre meninos e meninas,
elas são mais princesinhas, eles são mais ogros.