quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Assim falou Zaratustra.





Não gosto de fazer previsões, costumo errar todas. Quando faço alguma previsão negativa, as mais fáceis de fazer já que quase sempre as coisas pioram, mesmo se acertar fico triste. Significa que alguma coisa não vai bem. As positivas são muito mais difíceis, as variáveis são muitas e desvios acabam ocorrendo. Além de não fazerem parte da minha natureza ibérico/lusitana.

Mas vou arriscar uma aqui que acho preocupante. Com certeza não estarei mais neste vale de lágrimas quando as coisas chegarem ao ponto que descreverei adiante, então peço que os sobreviventes, caso queiram, me passem a informação por algum meio esotérico.

Trata-se do espetaculoso, tecnológico, sensacional Carro Elétrico!

Desculpem-me os aficionados, mas acho que vai dar merda. Explico:

Apresentado como a solução definitiva para os problemas das diversas poluições provocadas pelos atuais veículos movidos a combustíveis fosseis (achei legal escrever fóssil no lugar de gasolina ou diesel), sonora, atmosférica, aquática e gramática e zunir como um carrinho de autorama me parece que estas belezinhas trarão um número ainda difícil de mensurar de novos e, talvez, mais graves problemas.

Por partes:

Espaço – Os projetos que vejo usam como modelos os carros atuais, por mais bonitos que sejam e por mais que eu goste deles (Audis, BMWs, Mercedes, Porsches, Ferraris, Shelby-Cobra, Mustangs, Eleanor, etc.) mantém o uso de algo em torno de 10 m², pouco mais, pouco menos, para transportar uma ou duas pessoas em média. Os congestionamentos continuarão, vigorosos e enlouquecedores, mais silenciosos é certo, mas ainda assim irritantes. Não há espaço para tantos artefatos de locomoção.

Poluição – Aí é que a porca torce o rabo, a onça fuma e o bicho pega. Hoje é bem bonitinho o cara que está mostrando uma belezura destas, dizer: A bateria carrega em 12 horas, é só deixar plugado na tomada durante a noite que estará pronto para rodar mais de 300 ou 400 km. Legal, campeão, mas quem vai gerar esta nova demanda de zilhões de kilowatts de energia elétrica, a que custo, e como vai distribuí-la? Mas mesmo que se encontre solução para este pequeno detalhe existe um maior, as imensas baterias que estes veículos usarão! Feitas com os tais metais pesados, são praticamente indestrutíveis, com um período indeterminado e indeterminável de decomposição, contaminando de forma fatal os lençóis freáticos, a terra e o escambau.
Ah! Dirão vocês, mas estas baterias serão recicladas, já existe processo para
isso, vi uma fábrica na Alemanha que recicla X baterias por dia, recuperando 80% do material empregado. É o meu cacete! Lembram das garrafas PET? Fáceis de produzir, de transportar (são infladas no processo de envase do produto), e, diziam, recicláveis. Recicláveis uma porra, a menos que vocês considerem importantes os vasinhos, abajures, miçangas, que são produzidos com estas garrafas usadas. Dêem uma olhada em Santana do Parnaíba para ver o que o pessoal acha desta tal reciclagem, quase inexistente e certamente ineficiente em números globais. Quando existirem milhões destas baterias de cádmio, césio, chumbo, estas merdas, para serem descartadas, será mais um grave problema de lixo indestrutível a ser resolvido. Vejam a situação do lixo tecnológico (computadores, celulares, eletrônicos diversos) que acaba sendo enviado para países miseráveis da África, sem previsão de solução definitiva.


Perceberam que não estou muito otimista a respeito de mais esta maravilha tecnológica, mas, dirão alguns, eu sou assim mesmo, pessimista. No que concordo totalmente, assim erro menos.

Acho que será mais um caso para o “Axioma de MAA” (a frase é minha, até prova em contrário):

“Em qualquer ciência humana, a solução de hoje será, quase sempre, o problema de amanhã”.

Tenho dito.