segunda-feira, 11 de junho de 2012

“Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.” - Antonio Machado, poeta espanhol.

O esmelecamento e a mudança de cor sofridos pelos dejetos caninos, eliminados pelos inimputáveis animaizinhos e não recolhidos pelos imboçais de seus proprietários, tornam as já complicadas caminhadas pelo Brooklin mais difíceis ainda. A ação deletéria das copiosas chuvas que se abatem sobre nossa comunidade (posso usar, não posso? Ou é só para as favelas que aparecem nas novelas da Globo?), além de dissolverem o que seria um visível montinho e o transformarem em uma armadilha escorregadia, provocam alterações cromáticas criando uma cor que varia entre o amarelo-esverdeado e o verde-amarelado, a chamada “Cor-de-Merda-Quando-Foge”, que se confunde facilmente às manchas, buracos, folhas, ou outras coisas que infestam nossas pobres, maltratadas e esburacadas calçadas.

Está, assim, criado mais um problema para quem já não enxerga tão bem, já não caminha com a mesma desenvoltura de outrora e tem que tomar cuidado com loucas dirigindo SUV’s, falando ao celular e, às vezes, fumando, com motoboys atrasados, com seus sucessores, os ciclistas na calçada e contramão e com outras dificuldades da mesma natureza. Oportunidade de ouro para que um frequente companheiro de caminhadas exclamasse: “Vô, fodeu, você pisou na bosta!”. Não declinarei o nome deste companheiro por tratar-se, neste caso, de hipótese divagatória e para evitar punições a quem não disse nada, afinal não estava presente.

Com o aumento da quilometragem pessoal, para alguns logo após os 40 e para os mais sortudos mais próximo dos 50, a vista começa a bambear e aparece a famosa “Síndrome do Braço Curto”. Começam os óculos para leitura, cuja gradação vai até uns 4,0 ou 4,5 graus, se não me engano. Já estou lá pelos 3,5. Acontece que a dificuldade visual, novidade para quem não veio com ela de berço, não para por ai. Aos poucos a dificuldade evolui para médias distâncias, longas distâncias, situações com pouca luz, situações com excesso de luz, e por ai vai. Aliás, eu gostaria de saber quem foi o feladaputa do publicitário de vinte e poucos anos que inventou que a velhice á a “melhor idade”. Melhor só se for para o derrière da sua (dele) mãe, seu bostinha. A velhice é uma merda e não me venham com palavras de consolo, só servem para me irritar mais ainda.

Acho que vou lançar um novo produto para velhinhos de qualquer gradação – júnior (60/70), pleno (70/80), sênior (80/90) ou máster (acima de 90). Trata-se da “Bengalassoura” ou “Vassouragala”, o nome ainda não está escolhido. O utilíssimo artefato seria constituído, como o nome sugere, de uma bengala com uma vassoura na ponta. Permitiria afastar do caminho as coisas com aparência suspeita e que pudessem causar dano ou embaraço ao caminhante. Reconheço que a má visão pode prejudicar o uso adequado de tão preciosa ferramenta de apoio. Penso em instalar um sensor que apite quando da existência de algo estranho pela frente. Preciso resolver como avisar aqueles de nós que já não escutam muito bem, talvez uma luzinha piscando, quem sabe. Estão vendo como a velhice é legal? Alguém conhece o inventor do famigerado “Melhor Idade”? Queria mandar um e-mail bem mal-educado pro desinfeliz. Talvez seja mais fácil que a Prefeitura do “Antes não tinha agora tem”, uma puta mentira, lançasse uma campanha chamada “Leve sua merda para o lugar de onde ela veio - a sua casa”.

Antonio Machado teria grande dificuldade em fazer seu caminho no Brooklin, talvez por isso mesmo nunca tenha passado por aqui.

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