sábado, 19 de janeiro de 2013

Carta para meu irmão Raphael Alves Aguilar.


Querido irmão, acho que esta é uma das poucas cartas que escrevi em toda a minha vida, nunca tive o hábito de epistolar-me com outras pessoas, diferentemente de escritores famosos dos quais, após suas respectivas mortes, são encontradas pilhas de cartas trocadas com outros saberetas e que serão publicadas ad-defuntam, para gáudio da família que embolsará mais uns cobres.



Outro dia, em uma postagem no FB, você reclamou de minha ausência no referido espaço e na falta que te faziam meus comentários, que foram classificados como “Filosofia de Barbearia”, o que muito me orgulhou já que nestes ingênuos salões são proclamadas as grandes verdades do Universo. Não é que eu esteja ausente, já que leio o que é postado por todos a quem tenho acesso, é que percebi que pouco ou nada tenho a acrescentar às aflições gerais e, em particular, ao seu drama familiar, que conheço bem.



Na verdade pouco sei das coisas, tenho alguns palpites é certo, mas não passam disto. Em política, assunto que acompanho com algum interesse, percebi que estou superado. Espero dos eleitos para cargos públicos uma honestidade que passou de moda, uma dedicação que é motivo de escárnio, uma franqueza que acho que nunca existiu. Quem sou eu para discutir com os milhões que elegeram Lula, Sarney, Waldemar, Renan, Collor, Netinho, Maluf e outros do mesmo calibre? Certamente estarei errado, já que somente eu e alguns que pensam de forma semelhante nos importamos com as mentiras deslavadas a que somos submetidos todos os dias e que a maioria da população parece aceitar e aplaudir, já que continua elegendo os mesmos meliantes. Cansei.



Na situação que você vive pouco posso ajudar. Falamos por telefone com freqüência, por mérito seu, e estou razoavelmente informado de como estão as coisas. Dramáticas, certamente. Outros poderão te falar de Deus com mais conhecimento e fé do que eu, esta nunca foi minha área de especialidade. Alguns poderão te citar filosofias orientais meditativas e iluminantes, outro departamento em que sou deficiente. Só posso te dizer que penso em você e na Rosana todos os dias e que, se pudesse, te ajudaria mais e melhor do que tenho feito. Tenho certeza que você está fazendo o melhor que pode e que isto é muita coisa. Eu, em seu lugar, não teria esta força e esta determinação. De nossas heranças genéticas você ficou com as qualidades do papai e da mamãe, a alegria quase inexplicável dele, seu bom-humor, sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem desabar, sua facilidade em fazer amigos. Dela parece que você herdou a habilidade culinária, que te permitiria abrir o melhor restaurante português do litoral norte. A mim couberam a melancolia dela, que é a saudade daquilo que a vida poderia ter sido, e a absurda esperança dele de ganhar na loteria e ajeitar a vida daqueles a quem amo. Os poucos amigos que ainda mantenho ai estão mais por persistência deles do que por minhas qualidades.



De qualquer forma estarei sempre à tua disposição para ouvir o que você quiser compartilhar comigo, nem que seja só para desabafar, já que a ajuda será insuficiente.



Beijos meu querido irmãozinho.