Querido
irmão, acho que esta é uma das poucas cartas que escrevi em toda a minha vida,
nunca tive o hábito de epistolar-me com outras pessoas, diferentemente de
escritores famosos dos quais, após suas respectivas mortes, são encontradas
pilhas de cartas trocadas com outros saberetas e que serão publicadas
ad-defuntam, para gáudio da família que embolsará mais uns cobres.
Outro
dia, em uma postagem no FB, você reclamou de minha ausência no referido espaço
e na falta que te faziam meus comentários, que foram classificados como
“Filosofia de Barbearia”, o que muito me orgulhou já que nestes ingênuos salões
são proclamadas as grandes verdades do Universo. Não é que eu esteja ausente,
já que leio o que é postado por todos a quem tenho acesso, é que percebi que
pouco ou nada tenho a acrescentar às aflições gerais e, em particular, ao seu
drama familiar, que conheço bem.
Na
verdade pouco sei das coisas, tenho alguns palpites é certo, mas não passam
disto. Em política, assunto que acompanho com algum interesse, percebi que
estou superado. Espero dos eleitos para cargos públicos uma honestidade que
passou de moda, uma dedicação que é motivo de escárnio, uma franqueza que acho
que nunca existiu. Quem sou eu para discutir com os milhões que elegeram Lula,
Sarney, Waldemar, Renan, Collor, Netinho, Maluf e outros do mesmo calibre?
Certamente estarei errado, já que somente eu e alguns que pensam de forma
semelhante nos importamos com as mentiras deslavadas a que somos submetidos
todos os dias e que a maioria da população parece aceitar e aplaudir, já que
continua elegendo os mesmos meliantes. Cansei.
Na
situação que você vive pouco posso ajudar. Falamos por telefone com freqüência,
por mérito seu, e estou razoavelmente informado de como estão as coisas.
Dramáticas, certamente. Outros poderão te falar de Deus com mais conhecimento e
fé do que eu, esta nunca foi minha área de especialidade. Alguns poderão te
citar filosofias orientais meditativas e iluminantes, outro departamento em que
sou deficiente. Só posso te dizer que penso em você e na Rosana todos os dias e
que, se pudesse, te ajudaria mais e melhor do que tenho feito. Tenho certeza
que você está fazendo o melhor que pode e que isto é muita coisa. Eu, em seu
lugar, não teria esta força e esta determinação. De nossas heranças genéticas
você ficou com as qualidades do papai e da mamãe, a alegria quase inexplicável
dele, seu bom-humor, sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem desabar,
sua facilidade em fazer amigos. Dela parece que você herdou a habilidade
culinária, que te permitiria abrir o melhor restaurante português do litoral
norte. A mim couberam a melancolia dela, que é a saudade daquilo que a vida
poderia ter sido, e a absurda esperança dele de ganhar na loteria e ajeitar a
vida daqueles a quem amo. Os poucos amigos que ainda mantenho ai estão mais
por persistência deles do que por minhas qualidades.
De
qualquer forma estarei sempre à tua disposição para ouvir o que você quiser
compartilhar comigo, nem que seja só para desabafar, já que a ajuda será
insuficiente.
Beijos
meu querido irmãozinho.
Prezado, por acaso seu amigo William Atihé, tinha um João entre os dois nomes? Há muitos anos trabalhei com essa pessoa e fiquei triste com a eventual notícia.
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