domingo, 5 de fevereiro de 2012

Cidadanias, Civilidades e o Guarda-Roupa.

Os atletas praticantes da profissão mais antiga do mundo, aquela que começa com “P”, são responsáveis por estas lamentáveis confusões, que pretendo comentar a seguir se não perder o fio da meada. Não, meus queridos, não me refiro às Putas e sim aos Publicitários. Quando Eva foi tentada pela Serpente, com aquela conversinha de “É só $ 29,99, amiga...; É só até Sábado...; Sua vizinha já comeu duas, você vai ficar sem? ...” e inventou o Pecado Original estavam lançadas as bases da primeira profissão do planeta. Publicidade! Depois foi só criar um prêmio em forma de Leão e pronto, a profissão estava consolidada. São capazes das mais deslavadas mentiras para fazer você comprar o bagulho que querem vender. “Nosso maravilhoso plano oferece isto, aquilo, e muito mais”. Muito mais uma porra! Mesmo o que é explicitado nem sempre é fornecido, quanto mais o “Muito mais.”.

Mas já ia me perdendo, o que queria mesmo é falar do uso do que poderia ser chamado de Semântica Criativa como forma de enganar as pessoas e de criar novos e desagradáveis comportamentos. Os publicitários sempre foram muito criativos em usar a linguagem para enganar as pessoas. Carro usado vira “seminovo”, velhice vira “melhor idade” (esta é de lascar!), apartamentos onde Judas perdeu as botas viram “próximo ao Metrô Xingu”, estas merdas. Mas o auge da canalhice foi alcançado por um sub-grupo destes malditos, os especialistas em Marketing Político, a fina flor da filhadaputice! E foram criados novos significados para as palavras, normalmente associadas a um partido político, como se estes fossem os salvadores da pátria, os defensores da nação, o ó do borogodó, estas coisas.

E favela virou comunidade, e direitos civis viraram cidadania, e ações de prevenção viraram sustentabilidade, entre outras pérolas desta Inculta e Bela. Já vi em algum lugar a expressão “Cidadania Sustentável”. O que significa esta porra?! Da criação desta nova interpretação de Cidadania para o abuso foi um passo. Vagabundo enchendo o saco de todo mundo no Metrô ouvindo no último volume uma merda de um Funk pode? Pode, está expressando seu direito cidadão de optar por um estilo musical e demonstrar sua preferência aos pobres circundantes. Polícia prender maconheiro na USP pode? Não pode, os jovens estudantes tem o direito de usar dos frutos da natureza como quiserem, é seu direito cidadão. Passeata na Av. Paulista, atrapalhando o trânsito e fodendo a vida de todo mundo pode? Não pode, mas pode. Explico: É proibido, mas em face do direito cidadão de expressar suas opiniões livremente, grupelhos de desocupados mal-intencionados fazem manifestações na “Mais Paulista das Avenidas” (Quando os jornalistas vão parar de escrever esta bobagem?) e danem-se aqueles que precisarem de um dos muitos hospitais da região.

Então acho que entendi: Cidadania, de acordo com a Nova Gramática Publicitária, é o conjunto de nossos direitos mesmo que atrapalhem os outros. Então ta.

Proponho então, a partir de agora, que compensemos esta desgraceira com ações de Civilidade. Sei que muitos vão estranhar a palavra, cujo sentido talvez desconheçam, mas refere-se ao conjunto de ações que os antigos chamavam de “Boa Educação” e que, se aplicados no dia a dia, podem tornar a vida das pessoas mais leve e prazerosa.
Exemplos? Pois não, lá vai:

Peça por favor, ao solicitar algo de alguém. Qualquer coisa.
Agradeça com um muito obrigado quando for atendido.
Cumprimente as pessoas com um bom dia, boa tarde ou boa noite, conforme o caso, ao entrar em algum lugar – incluídos elevadores. Não importa se vão retribuir, o que interessa é sua atitude.
Despeça-se com um até logo ao sair destes mesmos lugares, pelas mesmas razões.
Não finja que está dormindo no Metrô para não dar lugar a alguém que precisa estar sentado mais do que você. Dê logo a porra do lugar!
Não incomode os outros com sons que muitas vezes só você gosta, use fones de ouvido ou escute esta merda na sua casa.
Dê passagem às pessoas mais velhas, às mulheres com crianças (nascidas ou por nascer), para aqueles que não se movimentam tão bem quanto você, enfim seja gentil cacete!

Então é isso, acho que já me estendi demais. Vamos adotar o slogan “Mais Civilidade e Menos Cidadania”, acho que pode funcionar.

Nota 1: Não é que eu odeie particularmente os publicitários, odeio quase da mesma forma outros profissionais: médicos, advogados, administradores, economistas, jornalistas, etc. Na verdade não gosto de quem usa de sua profissão para enganar os outros, simples assim.

Nota 2: O título “Cidadanias, Civilidades e o Guarda-Roupa” é uma homenagem ao título das Crônicas da Nárnia; “O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa”, que eu acho sensacional.

E mais não disse, nem lhe foi perguntado.

Saudações Republicanas.

Um comentário:

  1. Maurício,
    Ouvi há algum tempo que começamos a perder a cidadania quando perdemos a calçada, o passeio em que encontrávamos pessoas, parávamos e conversávamos com calma e, em noites de calor, as pessoas traziam suas cadeiras, para uma conversa à toa. Ah! sim, isso foi antes do BBB.

    Abração Maurício!

    ResponderExcluir