A
coisa está passando de todos os limites, algo precisa ser feito e com urgência.
Eu já ando com o sistema nervoso. Basta ligar o Rádio ou a TV e logo aparece
alguém para me informar quantas mortes ocorreram nas últimas 24 horas, quantos
quilômetros de congestionamento a cidade enfrenta, que ontem foi o dia mais
frio ou mais quente do ano, que vai faltar água no Nordeste, que vai sobrar
água no Sudeste, que a Transposição do São Francisco não ata nem desata, que as
obras para a Copa de 2014 estão atrasadas, que a popularidade do governo,
apesar de tudo, continua subindo, enfim, despejam um monte de notícias
assustadoras sobre este pobre velhinho. Acho que o objetivo deste pessoal é me
deixar tão inseguro que eu resolva não sair mais de casa e que fique o dia
inteiro dando audiência aos programas que divulgam tais notícias. Se mudar de
canal ou trocar a estação serei notificado por Apóstolos, Bispos, Missionários,
Pastores, que, a menos que eu compareça a um determinado local e participe de
uma cerimônia de descarrego organizada por estes senhores, irei para o quinto
dos infernos, sem perdão.
Assunto
é o que não falta, só para ficar nos palpitantes mais recentes tivemos os
julgamentos de Gil Rugai e do Goleiro Bruno, o pedido de demissão de Bento XVI,
a ameaça nuclear da Coréia do Norte, a morte e o correspondente embalsamamento
do Chávez. Agora se avizinham, ameaçadores, o julgamento do Mizael, o conclave
para eleição do novo Papa, as roubalheiras aqui e alhures, os novos mortos e os
velhos quase mortos, entre outros.
Pensando
nisso convoquei uma reunião extraordinária com meus neurônios, para que
pudéssemos decidir nossa posição face a tantos tormentosos tormentos. Mantendo
o que vem acontecendo nas últimas reuniões, o quorum foi muito baixo. A maioria
faltou. As desculpas foram as mais variadas, desde aqueles que esqueceram a
data, o local da reunião, que condução deveriam tomar, até os que preferiram
fazer coisa mais produtiva. Soube que alguns foram à praia, outros ao cinema e
outros ainda ficaram só vagabundeando vendo TV ou xeretando no Facebook. No
final o número de presentes se resumia a sete neurônios e eu, num total de oito
votantes. Para evitar a possibilidade de empate, o que iria gerar mais
confusão, convoquei de última hora meu cachorro, Seu Bosta, apesar das bobagens
que este desaforado animal anda fazendo ultimamente. Aberta a reunião e
aprovadas as contas do exercício anterior, passamos de imediato à discussão da
pauta do dia que se resumia a um único item: Qual será o assunto presente na
imprensa, em todas as suas formas, que elegeremos como o maior enchedor de saco
do planeta, aquele que dá vontade de gritar quando somos submetidos a mais uma
única palavra a respeito? Depois de explicar quatro ou cinco vezes a finalidade
da reunião para os mais distraídos, começamos os debates. Robervaldson, um
neurônio que não sei de onde apareceu, pediu a palavra e sugeriu que
escolhêssemos as quedas de Neymar como o assunto mais chato, colocando em
segundo lugar as contusões de Valdívia e/ou as expulsões de Luiz Fabiano. Só
pensa no nobre esporte bretão este menino, acho que é mais um jogador de
futebol frustrado. Epaminondas, um dos mais antigos, sugeriu que o assunto mais
aborrecido era a cobertura dada às enchentes, corriqueiras nos meses de início
de ano e que, segundo ele, vem desde os tempos do prefeito Prestes Maia. Depois
de mais de duas horas de reunião a coisa não desempatava, sugestões fracas,
assuntos de baixo impacto, enfim mais uma reunião perdida.
Foi
quando Seu Bosta pigarreou e pediu a palavra. Descreveu com precisão a chatice
que era ouvir quantos Cardeais iriam votar no próximo conclave, de como era
preparada a Capela Sistina para o processo de votação, de como os votos
deveriam ser grafados com letras alteradas para que não se descobrisse de quem
eram. Enfatizou sobre a aparência assustadora da repórter Ilze Scamparini, com
os olhos profundos, os cabelos compridos jogados sobre os ombros e quase
cobrindo o rosto, a voz tenebrosa num misto de Rivotril com “Não aguento mais
esta merda”, disse que ela está cada vez mais parecida com a bruxa da vassoura.
A proposta foi aprovada por 7 X 2, não que houvesse votos contrários mas é que
estes dois tinham ido ao banheiro, bem naquela hora. Então ficou decidido que a
pauta mais insuportável das próximas semanas será a eleição do novo Papa, com
todos os seus rituais renascentistas, seus procedimentos estranhos, seus
segredinhos de Polichinelo. O verdadeiro e legítimo Pé no Saco.
SB
ficou tão vaidoso que sua proposta havia sido aprovada que, além de pedir sua
inclusão entre meus neurônios como “Neurônio Honoris Causa”, pediu um aumento
de salário. Que salário, porra?! Quadrúpede destrambelhado este.
Habemus
Papam! Haja Saccum!