Estou
usando há alguns dias um “Uai! Fone?!” destes modernos, touchscreen, wi-fi, 3g,
diversas funções – até parece um dos antigos canivetes suíços multiuso. Ganhei
o bicho de meu filho Eduardo pelo processo de herança reversa, aquela pela qual
os pais recebem os bens dos filhos. Vou tentar resumir minhas experiências até
agora, talvez sejam úteis para outros anciões que resolvam se aventurar pelo
maravilhoso mundo da tecnologia que, como sabemos bem, é reservado aos jovens.
Primeiro:
Não precisa apertar o que aparece na tela, basta tocar. Parece fácil mas não é.
Nosso treinamento, que começou com os telefones de discar, envolveu a noção de
que é preciso um esforço físico, mesmo que mínimo, para que algo aconteça.
Agora a coisa mudou. Tocar é diferente de apertar. Se você ficar apertando
muito a tela destas novas maravilhas, o máximo que vai conseguir é que ela
fique mais engordurada. Acredito que num futuro próximo as funções serão
executadas a partir do olhar, sendo desnecessário qualquer contato físico com o
aparelho. Então não aperte, toque.
Segundo:
Se algo não está acontecendo, a culpa é sua. A lógica cerebral de nossa turma
não é a mesma daquela dos engenheiros de 27 anos que projetaram estas gracinhas
e muito menos a dos analistas e programadores de 19 anos que fizeram os
programas embarcados. Estes meninos e meninas são da geração do vídeo game,
acostumados a controles quase impossíveis de usar, com diversos botões e joysticks
(como se diz isso em português?) que muitas vezes têm que ser acionados
simultaneamente. Devem ter dezesseis dedos e ainda usar a ponta do nariz para
ajudar. Quando nascemos ainda não havia TV, imagine só! E, ao que parece, ela
também está em vias de extinção. Acho que em breve receberemos as imagens e
sons diretamente em nossos cérebros, através de alguma porretilha enfiada em
nossos ouvidos, se não resolverem usar outras alternativas para esta conexão.
Vá com calma, não se desespere, sempre será possível desligar este treco. Tente
fazer uma coisa de cada vez, e já é muito para tua idade.
Terceiro:
Isto NÃO é um telefone! Este objeto que agora te assombra tem múltiplas
utilidades (e milhares de inutilidades) o que inclui, quase por acaso, um
telefone. Mas esta função não é a principal, pode crer. Quer saber a previsão
do tempo? Cá está. Ultimas notícias? Pois não. O que está passando nos cinemas,
dicas de restaurantes, classificação dos filmes, programação da TV, está tudo
lá. Fotografar, filmar (hoje se diz fazer um vídeo), mandar e receber
mensagens, entrar nas tais mídias sociais (Facebook, Twitter, etc.), consultar
mapas, usar um GPS (sabe o que é?), ouvir música, navegar na Internet, só não
faz café o danado. Ainda, dirão alguns. Mas não espere enxergar muito bem estas
preciosas informações, afinal já vai longe seu tempo de olhos de águia. Bota
logo estes óculos!
Quarto:
Lembra do primeiro celular que você comprou? Aquele que esperou dois anos após
inscrever-se na Telesp, que parecia um tijolo e que custou algo perto de mil dólares?
Esquece. Não são nem parentes. Os celulares jurássicos mal telefonavam (defeito
ainda existente nos modernos aparelhos em algumas ocasiões), chiavam a toda
hora e perdiam o sinal quando entravamos em túneis ou em áreas de sombra (linguagem
técnica da época, hoje não se usa mais). Estes novos artefatos são descendentes
dos computadores e não dos telefones, meu caro. E dos computadores bons, não
daquelas jabiracas que você usava em seu trabalho. O que está em suas mãos é
uma maravilha da miniaturização, que concentra o poder de fogo de um jato F5 e
não daqueles antigos estilingues da tua infância.
Quinto:
Se tudo falhar, se você não conseguir usar o novo brinquedinho apesar de todo
seu esforço, não desanime. Chame seu filho ou, melhor ainda, caso tenha chame
seu neto. Eles vão ouvir seu problema e, com uma cara de saco cheio, vão fazer
o que você estava querendo. Mas não se iluda, eles não vão te ensinar a fazer,
já que acham que não adianta, você não vai aprender mesmo. Fazer o quê? Talvez
tenham razão.
Boa
Sorte!
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