Familiares, parentela, amigos, vizinhos e
palpiteiros em geral acham que estou ficando trifásico, ops, tripolar. Dizem
que meu humor está entre uma destas alternativas: mau-humor, pior-humor e péssimo-humor.
Mas ninguém vê o meu lado. Vejam se não tenho razão:
Na loja
de calçados.
- Boa tarde.
- Boa tarde,
meu nome é Gilvânio, em que posso ajudá-lo? Como é o seu nome?
- Meu nome é
Mauricio. Você poderia me mostrar aquele sapato que está na vitrine, na frente,
o sem cordão que está ao lado daquele cinza-metálico? Gostaria da mesma cor,
marrom café, 41 ou 42.
- Pois não, é
um ótimo sapato, muito confortável. Vou ao estoque buscar e já volto.
Dez minutos depois Gilvânio volta com umas oito
caixas de sapatos e começa sua argumentação.
- Senhor,
aquele modelo está em falta, está vendendo muito, mas trouxe outros modelos
parecidos para ver se algum deles lhe agrada.
(Lá vem bosta, penso eu).
- Este aqui é
muito parecido com aquele que o senhor gostou. Mas só temos na cor preta e
número 40. A forma é larga, acho que vale a pena provar.
Calço o maldito que quase extirpa meu dedinho, sem
anestesia. Não dá para aguentar.
- Está muito
apertado, digo eu, e a cor não é a que estou procurando.
- É como
estou lhe dizendo, Sr. Marcelo, a forma é larga e este tipo de sapato laceia
muito. Em poucos dias estará servindo feito uma luva.
(Só se eu usá-lo nas mãos, penso mas não digo).
- Vamos ver
os outros que você trouxe.
- Claro, Sr,
Murilo, é pra já. Este outro aqui é um modelo recém-chegado, lançamento, que
está vendendo muito bem. E é o seu número, 42.
- Mas é verde
limão, com cordões, couro rígido, totalmente diferente daquele que eu queria.
- Mas veja
bem, Sr. Mauro, é a última moda na Itália. Todo mundo está usando.
Levanto-me com um “Ai meu saco” pronto para uso, mas
digo: Muito obrigado Gervásio, vou olhar em outras lojas. Qualquer coisa eu
volto.
No Pão
de Açúcar.
Entro na loja e dou uma olhada no folheto das
ofertas. Azeite X com desconto, queijo y, leve 2 pague 1, bacalhau do porto
extra limpo por apenas $ xx,xx.
Procuro, procuro, não acho nenhum dos itens. Chamo
uma mocinha uniformizada, que se assusta na hora em que lhe dirijo a palavra,
acho que não está acostumada que falem com ela.
- Por favor,
estou procurando estes itens do folheto e não estou encontrando, poderia me
ajudar?
- Um momento,
vou chamar o responsável pela mercearia.
Quinze minutos depois aparece um jovem de avental
branco e me pergunta o que quero. Repito toda a história e ele me responde
rápido:
- Estes
produtos estão esgotados senhor, as ofertas estão muito boas.
- Como assim,
estão esgotados? As ofertas começaram hoje, são 9.00 horas da manhã, você quer
me dizer que centenas de pessoas já estiveram aqui e compraram tudo?!
- Ou talvez
os produtos ainda não tenham sido entregues, senhor. Quer que eu verifique?
Antes do “Ai meu saco”, declino: Muito obrigado,
voltarei depois.
Na loja
de computadores, suprimentos e acessórios.
Depois de procurar algum funcionário da loja por
quase meia-hora, acho um perdido que voltava de algum lugar interno, o
banheiro, sei lá, e mando:
- Boa tarde.
- Boa tarde, posso
ajudá-lo?
- Sim, estou
procurando um cabo USB/USB com uns trinta ou quarenta centímetros, vocês tem?
- Qual seria
o uso, senhor?
- As entradas
USB do meu computador não são muito confiáveis, então resolvi deixar espetado
um cabo compatível e conectar o pendrive no cabo. Deve funcionar.
- Qual é seu
computador?
- Notebook
Samsung, modelo RV411.
- Hi! Este
notebook dá muito defeito nas entradas USB. O senhor não quer aproveitar nossa
oferta, só esta semana, do Notebook XYZ, com Intel Core I7, 8 Giga de Ram, HD
de 1 Tera, grava Blue-Ray, uma beleza. Somente R$ X.XXX,XX em 10 vezes sem
juros.
Este levou um “Ai, meu saco!” bem dado. Tem
cabimento?!
Nas caminhadas
pelo bairro.
Venho pela calçada e no exato momento que coloco o
pé na calçada de uma loja aqui do bairro, um enorme SUV de mais de 6 metros de
comprimento entra correndo na “vaga” pintada na calçada da loja, que não tem
mais de 3 metros. É lógico que não cabe, a traseira daquela merda ocupa todo o
espaço de pedestres e invade o leito carroçável (gostaram?). Desce uma pimpona,
falando ao celular e, sem olhar para mim, aciona o alarme do carro e entra na
loja.
Fico com vontade de andar por cima daquele mostro
motorizado, de abrir as portas e passar por dentro do carro, mas resigno-me a
andar no meio-fio, junto ao trânsito, e penso: “Ai, meu saco!”.
Chega ou querem mais? Tem mais, posso garantir.
“Ai, meu
saco!”!