quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ai, meu saco!

Familiares, parentela, amigos, vizinhos e palpiteiros em geral acham que estou ficando trifásico, ops, tripolar. Dizem que meu humor está entre uma destas alternativas: mau-humor, pior-humor e péssimo-humor. Mas ninguém vê o meu lado. Vejam se não tenho razão:

Na loja de calçados.

 - Boa tarde.
 - Boa tarde, meu nome é Gilvânio, em que posso ajudá-lo? Como é o seu nome?
 - Meu nome é Mauricio. Você poderia me mostrar aquele sapato que está na vitrine, na frente, o sem cordão que está ao lado daquele cinza-metálico? Gostaria da mesma cor, marrom café, 41 ou 42.
 - Pois não, é um ótimo sapato, muito confortável. Vou ao estoque buscar e já volto.

Dez minutos depois Gilvânio volta com umas oito caixas de sapatos e começa sua argumentação.

 - Senhor, aquele modelo está em falta, está vendendo muito, mas trouxe outros modelos parecidos para ver se algum deles lhe agrada.

(Lá vem bosta, penso eu).

 - Este aqui é muito parecido com aquele que o senhor gostou. Mas só temos na cor preta e número 40. A forma é larga, acho que vale a pena provar.

Calço o maldito que quase extirpa meu dedinho, sem anestesia. Não dá para aguentar.

 - Está muito apertado, digo eu, e a cor não é a que estou procurando.
 - É como estou lhe dizendo, Sr. Marcelo, a forma é larga e este tipo de sapato laceia muito. Em poucos dias estará servindo feito uma luva.

(Só se eu usá-lo nas mãos, penso mas não digo).

 - Vamos ver os outros que você trouxe.
 - Claro, Sr, Murilo, é pra já. Este outro aqui é um modelo recém-chegado, lançamento, que está vendendo muito bem. E é o seu número, 42.
 - Mas é verde limão, com cordões, couro rígido, totalmente diferente daquele que eu queria.
 - Mas veja bem, Sr. Mauro, é a última moda na Itália. Todo mundo está usando.
Levanto-me com um “Ai meu saco” pronto para uso, mas digo: Muito obrigado Gervásio, vou olhar em outras lojas. Qualquer coisa eu volto.

No Pão de Açúcar.

Entro na loja e dou uma olhada no folheto das ofertas. Azeite X com desconto, queijo y, leve 2 pague 1, bacalhau do porto extra limpo por apenas $ xx,xx.
Procuro, procuro, não acho nenhum dos itens. Chamo uma mocinha uniformizada, que se assusta na hora em que lhe dirijo a palavra, acho que não está acostumada que falem com ela.

 - Por favor, estou procurando estes itens do folheto e não estou encontrando, poderia me ajudar?
 - Um momento, vou chamar o responsável pela mercearia.

Quinze minutos depois aparece um jovem de avental branco e me pergunta o que quero. Repito toda a história e ele me responde rápido:

 - Estes produtos estão esgotados senhor, as ofertas estão muito boas.
 - Como assim, estão esgotados? As ofertas começaram hoje, são 9.00 horas da manhã, você quer me dizer que centenas de pessoas já estiveram aqui e compraram tudo?!
 - Ou talvez os produtos ainda não tenham sido entregues, senhor. Quer que eu verifique?

Antes do “Ai meu saco”, declino: Muito obrigado, voltarei depois.

Na loja de computadores, suprimentos e acessórios.

Depois de procurar algum funcionário da loja por quase meia-hora, acho um perdido que voltava de algum lugar interno, o banheiro, sei lá, e mando:

 - Boa tarde.
 - Boa tarde, posso ajudá-lo? 
 - Sim, estou procurando um cabo USB/USB com uns trinta ou quarenta centímetros, vocês tem?
 - Qual seria o uso, senhor?
 - As entradas USB do meu computador não são muito confiáveis, então resolvi deixar espetado um cabo compatível e conectar o pendrive no cabo. Deve funcionar.
 - Qual é seu computador?
 - Notebook Samsung, modelo RV411.
 - Hi! Este notebook dá muito defeito nas entradas USB. O senhor não quer aproveitar nossa oferta, só esta semana, do Notebook XYZ, com Intel Core I7, 8 Giga de Ram, HD de 1 Tera, grava Blue-Ray, uma beleza. Somente R$ X.XXX,XX em 10 vezes sem juros.

Este levou um “Ai, meu saco!” bem dado. Tem cabimento?!


Nas caminhadas pelo bairro.

Venho pela calçada e no exato momento que coloco o pé na calçada de uma loja aqui do bairro, um enorme SUV de mais de 6 metros de comprimento entra correndo na “vaga” pintada na calçada da loja, que não tem mais de 3 metros. É lógico que não cabe, a traseira daquela merda ocupa todo o espaço de pedestres e invade o leito carroçável (gostaram?). Desce uma pimpona, falando ao celular e, sem olhar para mim, aciona o alarme do carro e entra na loja.
Fico com vontade de andar por cima daquele mostro motorizado, de abrir as portas e passar por dentro do carro, mas resigno-me a andar no meio-fio, junto ao trânsito, e penso: “Ai, meu saco!”.

Chega ou querem mais? Tem mais, posso garantir.


“Ai, meu saco!”!

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