- Alô!
- Alô, boa tarde, quem está falando?
- Quer falar com quem, minha filha?
- Deixe ver, quero falar com o Sr. Maurílio Avelar.
- Aqui não tem ninguém com este nome, até logo.
- Um minuto, não é Maurílio, é Mauricio. Sr Maurício
Avelar.
- Também não tem ninguém com este nome, meu bem. Até
logo.
- Mais um minuto, por favor, estou vendo melhor e é
Mauricio Aguiar.
- Sou eu mesmo, pode falar. (Ia esclarecer que é
Aguilar, mas achei perda de tempo).
- Sr Mauricio, tudo bem? Ótimo (antes que eu
respondesse qualquer coisa).
- Pois não, qual é o assunto?
- Sr Mauricio, o senhor tem recebido nosso jornal “A
Desgraça Impressa”?
- Não tenho recebido e nem quero, até logo.
- Mas Sr Mauricio, nosso jornal está com uma
promoção especial para o seu bairro, e a assinatura está custando somente R$
x,xx por mês, e o primeiro é grátis. O senhor não quer aproveitar?
- Não leio jornais, nem o seu nem nenhum outro. Não
tenho interesse, até logo.
- Mas o senhor não lê jornais? E como fica informado
das coisas que acontecem?
- Escuto rádio, minha filha, e desde as seis horas
da manhã ficam repetindo as mesmas coisas até a porra do Jornal Nacional, às
nove e meia da noite. Devo escutar estas repetições umas dez vezes por dia. Não
quero jornal nenhum, tchau.
- Mas o nosso é diferente, as reportagens são
melhores, resumidas, facilitando a leitura.
- Eu sou medianamente alfabetizado, querida, não me
importo de ler. Mas só leio o que quero, e eu não quero ler seu jornal. Está
claro?
- Mas o desconto é ótimo, mais de 50% sobre o preço
de banca.
- Sabe quanto eu gasto hoje com jornais? Nada! E vai
continuar assim.
- Mas...
- Meu bem, vamos encerrar por aqui, não vamos chegar
a lugar nenhum. Até logo, boa tarde.
- Até logo, nosso jornal agradece a atenção.
- Até logo.
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