segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Coisa!

Não sei bem quando a coisa começou, mas já faz algum tempo. Começou devagar, com uma proteção às baleias aqui, um salve os golfinhos ali, um preserve a natureza acolá, parecia uma coisa ingênua. Mas a coisa foi crescendo, passou a observar nosso comportamento, nossos preconceitos, nossa falta de educação, nossas preferências políticas, nossos hábitos.

Foram criadas organizações para cuidar de todas as coisas, com várias especializações. Algumas foram chamadas de ONGs, em princípio independentes de governos, que depois vieram a mamar verbas públicas, mostrando que não são tão não governamentais assim. Depois os próprios governos, entendendo-se aqui os partidos que estão com a mão no cofre no momento, que vendo as oportunidades que se apresentavam começaram a criar coisas governamentais, era uma mina de ouro. E as coisas começaram a criar regras para todos nós. Teus preconceitos são péssimos, reacionários, conservadores, fadados aos infernos. Preconceitos bons são aqueles apregoados pelas coisas, pois na verdade o que as coisas propõem são trocas de preconceitos. Os deles são bons, os outros são maus. Se você tem uma opinião diferente, a coisa vai te pegar.

Você fuma? Vício execrável! A coisa condena com todas as forças, te põe pra fora de restaurantes e locais públicos, logo, logo, a coisa ficará feia até para quem fuma na rua. A menos que você fume maconha. Ai a coisa é diferente. Várias coisas são a favor da maconha, desde coisas medicinais, coisas recreativas, até coisas que tratam das liberdades civis, o que quer que seja isso. Marchas e contramarchas a favor da cannabis sativa, com interdição de avenidas, fechamento de universidades, uma farra. Você bebe? Ai a coisa é relativa. Se você é um expert em vinhos ou em cervejas importadas e diferentes, tudo bem, a coisa flui bem. Mas se você é um pé-de-cana que gosta de tomar um esquenta-guela qualquer na padaria ou no boteco da esquina a coisa pega pro seu lado. Melhor esquecer seu repertório de piadas, na certa cheio de preconceitos étnicos, sexuais, geográficos, e que desrespeita minorias diversas.  

Você xinga políticos com palavras de baixo calão, seja em cerimônias públicas, seja em reuniões privadas ou, pior ainda, através das ditas redes sociais? Ai depende. Se você for membro ou simpatizante da coisa certa, governamental ou não, então pode. Estamos cansados de ver exemplos de celebridades da política nacional que fazem isso com desenvoltura. Mas se você pertencer a alguma categoria que a coisa não goste, ai não pode. A coisa está tão complicada que até escritores que morreram há muito tempo, com obras importantes, não estão agradando. Há quem proponha que seus livros sejam reescritos ou, pior, sejam queimados em praça pública para mostrar que agora a coisa é outra. Não importa o contexto em que as obras tenham sido produzidas, a coisa parece não saber o que é contexto. Algumas organizações, patrocinadas por coisas misteriosas, estão alertas para problemas de desrespeito aos direitos humanos, mesmo que cometidos na época do Império Romano ou até antes. Agora, se a coisa gosta de alguma linha de pensamento, ela será incentivada e exaltada mesmo que nunca tenha dado certo em lugar nenhum, talvez por sabotagem daqueles que são contrários à coisa certa.

A coisa está brava, cuidado!

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