A menos que você seja um nobre representante dos
“Povos da Floresta”, todos nós, de uma maneira ou de outra, descendemos de
imigrantes. Portugueses, Italianos, Espanhóis, Japoneses, Alemães, Árabes,
Judeus, as origens são as mais diversas, mas a situação deve ter sido sempre
semelhante. Diante de problemas terríveis em seus países de origem, sem saber o
que fazer, sem perspectivas para viver e sustentar mulher e filhos,
agarravam-se à esperança de uma vida melhor num local distante e misterioso, do
qual não sabiam quase nada. Aceitavam afastar-se de suas famílias, de seus
amigos, dos locais que conheciam, para tentar a sorte.
Chegavam assustados, muitas vezes sem conhecer a
língua falada no local de destino, sem dinheiro, com algumas poucas roupas em
suas malas, tendo somente a fé para ampará-los. Devia ser uma coisa
assustadora. O que levaria um homem a chegar em casa e gritar: Mulher! Arrume
as malas, coloque todas as nossas coisas, lave os pés das crianças, coloque os
sapatos e a roupa de domingo nelas, que vamos viajar. Para onde vamos,
perguntava ela? Para o Brasil. Brasil?! E por acaso conheces alguém lá, Manoel
(ou Manolo, ou Giuseppe, ou Kwanjiro, ou outro nome que queiram)? Ninguém. E
quando voltaremos? Após um breve silêncio, a resposta: Nunca!
Toda vez em que penso em exemplos de coragem, são
estes homens e mulheres que me vem à mente. Nada de astronautas, com uma enorme
retaguarda tecnológica e financeira, nem exploradores, alpinistas ou surfistas
de grandes ondas, todos com patrocinadores e equipes de apoio. Os imigrantes
não tinham retaguarda nenhuma, eram só eles e olhe lá. Isto sim era um salto no
escuro. Para os que atualmente ainda precisam fazer isso (Africanos, Haitianos,
Palestinos, Sírios, etc.) continua sendo a mesma coisa, a mesma incerteza, o
mesmo medo.
E foram para as fábricas, para as fazendas, moraram em
cortiços, suaram para ganhar a vida na nova terra, mas nunca desistiram.
Criaram filhos e filhas, e seus filhos lhes deram netas e netos, brasileiros.
Muitos destes descendentes de imigrantes não fazem idéia das aventuras que seus
antepassados tiveram que enfrentar para lhes dar as oportunidades que não
teriam em outras paragens.
Assim, quando você quiser pensar em alguém
destemido, corajoso, aventureiro, esforçado, não pense em atletas
contemporâneos, em desbravadores patrocinados, em profissionais que vivem do
risco, pense em seus avós ou bisavós. Estes sim foram pessoas destemidas, às
quais devemos render nossas homenagens.
Rendo minhas homenagens ao José (Pepe) e à Josepha
(Pepa), que vieram de Granada, Andaluzia, Espanha, com uma filha bebê e
emendaram mais nove filhos por aqui. Rendo minhas homenagens ao Joaquim e à
Ana, que vieram de Vila Real, Trás Dos Montes, Portugal, neste caso já trazendo
as quatro filhas mocinhas, Mariquinhas, Delmira - minha mãe, Alzira e Augusta.
Orgulhe-se dos seus imigrantes, eu me orgulho muito
dos meus.
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