sexta-feira, 2 de março de 2012

Pingos nos “is”.

Outro dia fui visitar minha mãe, o que faço muito menos do que deveria, que está com 90 anos e sem sair da cama há mais de um ano. Magrinha, fala pouco, a memória já não ajuda, um caquinho. Quando fui me despedir ela soltou a frase mortal: “Até logo, meu amor, volte logo”. Aquele “meu amor” foi como um piparote no cérebro, uma chacoalhada para que eu me lembrasse quem era, realmente, aquela velhinha que estava ali deitada. Claro que eu era “seu amor”, ela nunca me tratou de outra forma, nem eu nem nenhum de meus seis irmãos, todos “seus amores”. Ela nunca deixou que pairasse a menor dúvida sobre isso, sempre nos amou a todos e sempre deixou isto claro. Digo isso para recolocar as coisas em sua real perspectiva na minha vida. Já disse que tenho cinco netos, os dois mais velhos, Leonardo e Murillo, vieram com meu genro Wagner de seu primeiro casamento, mas gosto deles como se fossem “de verdade”. Os outros três são Vitor e Henrique, filhos de minha filha Patrícia e do Wagner e a Nathalia, filha de minha filha Priscila e do Alexandre (Sam).

Convivi muito com os três, na tarefa de ajudar Maria Clara a cuidar dos pimpolhos, em ocasiões diferentes. Vitor morou conosco quase um ano e era meu companheiro de caminhadas pelo bairro na hora do cafezinho ou em outras atividades. Nana, miudinha, buscávamos na casa da Priscila para ficar conosco enquanto a mãe trabalhava. E foram muitos meses. Henrique também ficou conosco, todos os dias, até começar a ir para a escola com dois anos, mais ou menos. Virou meu acompanhante fixo e tornou-se muito popular na vizinhança. Minha mulher e eu adoramos todos e gostamos quando ficam conosco, apesar de alguma bagunça que acaba acontecendo. Alguém já disse que netos são um bônus que é dado para compensar a velhice e é verdade.

Mas cabe a importante ressalva: Vitor e Henrique não são os meus príncipes, nem Nathalia é minha princesa. São príncipes e princesas de suas mãe e pais. Minhas princesas são Priscila e Patrícia e meu príncipe é Eduardo, meus filhos. Eles são os responsáveis por minhas maiores alegrias (e maiores preocupações), eles me ensinaram aquelas coisas que as crianças costumam ensinar aos adultos e que nós custamos a reconhecer. Pri e Pata eram as gracinhas da minha fase adulta, lindinhas, amorosas, alegres. Eduardo era meu companheiro, meu amigão – é até hoje, foi pra ele que comprei os primeiros bonecos de ação, os primeiros videogames. Foram os primeiros dias de aula destes três que me deixaram aflito, suas doenças que me atormentaram, seus vestibulares, suas carteiras de motoristas, por ai. São eles que entendem minhas piadas, até as raríssimas boas, minhas expressões de mau-humor, minhas manias.       

 Então, já que não sei se chegarei aos noventa anos como minha mãe – acho que não, vou dizer agora pra não esquecer, amo muito meus netos, mas meus filhos são meus grandes amores, para sempre.

Que Maria Clara não se engane, ela é “Hors Concours” nesta história toda.

3 comentários:

  1. Caro Mauricio....para variar, um texto lindissimo. Este particularmente especial, emocionante a cada palavra. D Delmira e "seu" Raphael entre outras coisas te ensinaram de uma forma ou de outra a expressar sem receio o que se passa na sua alma. Parabéns a todos. Gratidão pela beleza.

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