Quando ela saiu do quarto, eu já tinha levantado há
mais de uma hora. Tinha tomado café e colocado a toalha para que ela tomasse. A
laranja que descasco diariamente para ela já estava pronta. Quero ver quem vai
descascar laranjas na minha falta, ninguém mais sabe fazer isso em casa. Depois
de ir ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes ela vem para a sala, me dá
o beijo protocolar e dispara: Precisamos fazer mais exercícios.
Lá vem, pensei. Estou acostumado com esta conversa.
Toda vez que ela acha que deve fazer alguma coisa, iniciar alguma atividade,
mudar algum hábito, ela coloca o assunto no plural. Precisamos. Outro dia foi o
precisamos economizar. Porra, o último par de sapatos que comprei o Samello
ainda pregava saltos numa sapataria de bairro, a última camisa que comprei o
Lacoste ainda jogava tênis.
Mas as mulheres, ao menos a minha é assim, são
coletivas. Tudo deve ser feito em conjunto, não tem perdão. Se você titubear em
assumir os novos compromissos, já sabe, é encrenca na certa. Você não liga para
nossos problemas, nunca quer fazer o que eu sugiro, não se interessa por nada,
só fica neste computador fazendo não sei o que, deve ficar fazendo sexo virtual.
A lista é grande:
-precisamos visitar mais minha mãe.
-precisamos emagrecer (a mais perigosa de todas).
-precisamos sair mais com nossos amigos.
-precisamos cumprimentar fulano(a) pelo pelo aniversário.
E por ai vai. Nunca no singular. Vamos lá tirar o tênis
do armário para tomar um sol. Estas coisas costumam levar uma semana ou pouco
mais. Até vir a próxima “Precisamos...”.
Fazia horas que este blog não blogueava! Obrigado. A minha nem liga fico parecendo rádio velho.
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