Não gosto de fazer previsões, costumo errar todas. Quando
faço alguma previsão negativa, as mais fáceis de fazer já que quase sempre as
coisas pioram, mesmo se acertar fico triste. Significa que alguma coisa não vai
bem. As positivas são muito mais difíceis, as variáveis são muitas e desvios
acabam ocorrendo. Além de não fazerem parte da minha natureza ibérico/lusitana.
Mas vou arriscar uma aqui que acho preocupante. Com
certeza não estarei mais neste vale de lágrimas quando as coisas chegarem ao
ponto que descreverei adiante, então peço que os sobreviventes, caso queiram,
me passem a informação por algum meio esotérico.
Trata-se do espetaculoso, tecnológico, sensacional
Carro Elétrico!
Desculpem-me os aficionados, mas acho que vai dar
merda. Explico:
Apresentado como a solução definitiva para os
problemas das diversas poluições provocadas pelos atuais veículos movidos a
combustíveis fosseis (achei legal escrever fóssil no lugar de gasolina ou
diesel), sonora, atmosférica, aquática e gramática e zunir como um carrinho de
autorama me parece que estas belezinhas trarão um número ainda difícil de
mensurar de novos e, talvez, mais graves problemas.
Por partes:
Espaço – Os projetos que vejo usam como modelos os
carros atuais, por mais bonitos que sejam e por mais que eu goste deles (Audis,
BMWs, Mercedes, Porsches, Ferraris, Shelby-Cobra, Mustangs, Eleanor, etc.)
mantém o uso de algo em torno de 10 m², pouco mais, pouco menos, para
transportar uma ou duas pessoas em média. Os congestionamentos continuarão,
vigorosos e enlouquecedores, mais silenciosos é certo, mas ainda assim irritantes.
Não há espaço para tantos artefatos de locomoção.
Poluição – Aí é que a porca torce o rabo, a onça
fuma e o bicho pega. Hoje é bem bonitinho o cara que está mostrando uma
belezura destas, dizer: A bateria carrega em 12 horas, é só deixar plugado na
tomada durante a noite que estará pronto para rodar mais de 300 ou 400 km.
Legal, campeão, mas quem vai gerar esta nova demanda de zilhões de kilowatts de
energia elétrica, a que custo, e como vai distribuí-la? Mas mesmo que se
encontre solução para este pequeno detalhe existe um maior, as imensas
baterias que estes veículos usarão! Feitas com os tais metais pesados, são
praticamente indestrutíveis, com um período indeterminado e indeterminável de
decomposição, contaminando de forma fatal os lençóis freáticos, a terra e o
escambau.
Ah! Dirão vocês, mas estas baterias serão
recicladas, já existe processo para
isso, vi uma fábrica na Alemanha que recicla X
baterias por dia, recuperando 80% do material empregado. É o meu cacete!
Lembram das garrafas PET? Fáceis de produzir, de transportar (são infladas no
processo de envase do produto), e, diziam, recicláveis. Recicláveis uma porra,
a menos que vocês considerem importantes os vasinhos, abajures, miçangas, que
são produzidos com estas garrafas usadas. Dêem uma olhada em Santana do
Parnaíba para ver o que o pessoal acha desta tal reciclagem, quase inexistente
e certamente ineficiente em números globais. Quando existirem milhões destas
baterias de cádmio, césio, chumbo, estas merdas, para serem descartadas, será
mais um grave problema de lixo indestrutível a ser resolvido. Vejam a situação
do lixo tecnológico (computadores, celulares, eletrônicos diversos) que acaba
sendo enviado para países miseráveis da África, sem previsão de solução
definitiva.
Perceberam que não estou muito otimista a respeito
de mais esta maravilha tecnológica, mas, dirão alguns, eu sou assim mesmo,
pessimista. No que concordo totalmente, assim erro menos.
Acho que será mais um caso para o “Axioma de MAA” (a
frase é minha, até prova em contrário):
“Em qualquer ciência humana, a solução de hoje será,
quase sempre, o problema de amanhã”.
Tenho dito.