segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Se Arrependimento Matasse.


De todos os pecados que já pratiquei, e foram muitos – senão todos, talvez o pior seja o da Soberba. Costumava (disse costumava? às vezes ainda costumo) achar que sabia mais do que os outros a respeito de algum assunto ou alguma coisa e não perdia a oportunidade de demonstrar tal opinião. Dava palpites em qualquer tema, sempre visando esclarecer àquele populacho qual era a Verdade, a minha, é claro. Não poupava nada nem ninguém, sabia tudo e procurava espalhar a luz da sabedoria. Quanta empáfia, minha Nossa Senhora dos Humildes.

O pior é que minhas vítimas sempre estiveram entre meus mais queridos amigos e, principalmente, familiares. Meu pai deve ter sido o primeiro sofredor cujo saco enchi durante anos a fio, pobrezinho. Com treze ou quatorze anos comecei a dar palpites nas conversas que ele costumava manter com meu tio Nicola, seu cunhado e amigo, sobre a empresa da família em que ele era um dos sócios, ao lado de meu avô Pepe, meu tio Gaspar e meu tio Isidoro. Imagine só, um bostinha que mal tinha aprendido a amarrar os sapatos ficava achando que a Mecânica Aguilar, a referida empresa, deveria fazer isso, fazer aquilo, o escambau. O que devo ter falado de merda deveria dar para adubar planetas inteiros, e daqueles grandões.

Passados alguns anos, minha pobre sogra ouvia pacientemente minhas opiniões sobre religião, assunto sobre o qual, convenhamos, não sei nada. Opiniões que tinham como objetivo discordar dela, lógico. Meu sogro, também um Soberbo praticante, era escalado para discussões sobre música, literatura, cinema, artes em geral. Neste caso devo admitir que costumava ocorrer o chamado empate técnico, já que um ficava se exibindo para o outro em conversas cheias de ironia e sem nenhum objetivo prático. Irmãos e amigos recebiam palpites, verdadeiras aulas, de como criar e educar seus filhos, que carro comprar, onde morar, e tudo o mais em que eu pudesse meter o bico. Vamos deixar claro, eu era (era?) insuportável, o chamado “Que Puta Metido!”.

Fica aqui meu pedido de desculpas a todos os mártires que sacrifiquei em prol de uma pretensão imensa. Desculpem!

Mas o pior, o que realmente provoca a sensação de “Se arrependimento matasse...”, foram opiniões, nem sempre verbalizadas, sobre a forma de pensar de meu pai a respeito de certos assuntos, desde relacionamentos familiares a dinheiro. Achava o Sr. Raphael ingênuo e excessivamente esperançoso, sempre contando com alguma coisa mágica que fosse tirá-lo de alguma enrascada em que tivesse se metido, voluntaria ou involuntariamente. Do alto da minha ignorância não considerava as reais condições que ele tinha para sair da arapuca. Achava tudo fácil, o imbecil que vos escreve.

Erasmo Carlos tem uma música apropriada a esta temática que diz o seguinte:

“Antigamente, quando eu me excedia, ou fazia alguma coisa errada,
naturalmente minha mãe dizia: - Ele é uma criança, não entende nada...
Por dentro eu ria, satisfeito e mudo. Eu era um homem e entendia tudo.

Hoje só com meus problemas, rezo muito, mas eu não me iludo.
Sempre me dizem quando fico sério: - Ele é um homem e entende tudo...
Por dentro, com a alma atarantada, sou uma criança. Não entendo nada.”

Grande Erasmo, disse-o bem.

Só pude compreender, um pouco, as aflições e desesperos de meu pai quando passei por situações semelhantes e percebi que costumo reagir da mesma forma que ele, sem aquela falsa sabedoria que aparentava quando o nabo não era no meu.

Sr. Raphael, meu querido pai, desculpe-me por todas as bobagens que lhe disse e por aquelas que não disse mas pensei. Um beijo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário