Recomendação inicial: Abra o link da maravilhosa
música de Tom Jobim, ao começar a ouvi-la volte para o texto. Se não gostar do
que escrevi, ao menos a música é espetacular.
http://youtu.be/bQM-vP5BcGw
Acho que eu teria doze ou treze anos quando fui com
meu pai ao Rio de Janeiro pela primeira vez. A Mecânica Aguilar tinha clientes
e fornecedores na cidade maravilhosa (não me contive – vou tentar não repetir)
e o Sr. Raphael costumava ir ao Rio de vez em quando para tratar de negócios.
Não sei de quem foi a idéia de que eu fosse junto, talvez da minha mãe que
queria que eu ficasse de olho naquele bonitão, coisa que eu nunca fiz, nem
sabia o que era isso. Mas aproveitei muito as viagens que se seguiram, talvez
umas seis ou sete.
Meu pai se hospedava no Hotel Presidente, um hotel
meia-boca perto da Praça Tiradentes no centro da cidade, muito próximo a um
teatro de revista famoso na época, talvez fosse o Teatro João Caetano, não sei,
cheio de vedetes exuberantes e atraentes. Havia vários restaurantes pela região
e eu, chucro, achava aquilo tudo o máximo. Talvez fosse mesmo. Íamos de carro,
o que dava a oportunidade de curtir a viagem, com paradas mijatórias e para
lanches eventuais, uma delícia. O trânsito do Rio já era uma merda naquele
tempo, não sei do que reclamam hoje em dia.
Dos tais clientes ou fornecedores lembro-me de um
tal Fioravanti, que fazia as duas coisas. Fornecia matéria prima para a empresa
da família e comprava laminações e partes das mesmas. Pelas roupas que usava,
pelo sotaque e pelas tramóias em que vivia envolvido parecia um mafioso. Acho
que era mesmo. Havia outros, mas o tempo apagou seus nomes da minha claudicante
memória. Havia, também, uma coisa chamada “desmanche de navios”. A primeira vez
que ouvi falar nisso não sabia o que pensar. Quer dizer que desmancham navios?
Para que? Como se faz isso? O que eu não sabia é que os navios eram feitos de
ferro e aço, matéria prima para a indústria em que meu pai atuava. Volantes
(rodas) gigantescos, chapas, eixos, mancais, estas coisas brotavam dos tais
navios desmanchados e eram cobiçados por todos os que trabalhavam no ramo.
Lembro-me de ferros-velhos no Caju e em Niterói, onde fomos algumas vezes. Uma
vez subíamos a pé uma ladeira para ir a uma fábrica e passamos por alguns
barracos de madeira, uma favela na verdade, em um deles havia um rádio ligado e
no barraco uma mulher cantava, acompanhando a artista. Fiquei fascinado com
aquilo, nunca esqueci.
Mas minha área era mais recreativa, passeios,
restaurantes, praias, estas coisas. Afinal eu tinha doze ou treze anos, não
esqueçam. E nisto o pai era um craque, gostava das coisas boas e sabia aonde
ir. Conheci diversos restaurantes bons naquela época. Real Peixada, no centro,
La Fiorentina, no Leme, Bar Luiz, na Rua da Carioca, Confeitaria Colombo, um
melhor do que o outro.
Mas o que mais me impressionou e que guardo na
memória até hoje foi o Albamar, próximo da Praça XV, num velho mercado já
desativado naquela época. Chegava-se ao restaurante por um minúsculo e antigo elevador,
daqueles com portas pantográficas (tomou, papudo?), em que cabiam duas ou três
pessoas, no máximo. No salão que havia no piso superior janelões mostravam a
Baia da Guanabara, maravilhosa. A comida, nem te conto, polvos, camarões,
peixes deliciosos. Até um reles abacate batido que comi de sobremesa em uma das
vezes foi excelente. Existe até hoje, e parece que ainda é bom. Se quiserem
dêem uma olhada neste link: http://www.destemperados.com.br/experiencias/albamar-almoco-com-vista-e-mais-legal
Outra curiosidade foi o restaurante de Romeu
Pellicciari, na Barra da Tijuca. A barra era um puta deserto naquele tempo, não
havia nada. Romeu havia sido um jogador de futebol famoso, que após parar com o
futebol tinha montado aquele restaurante no Rio de Janeiro. Meu pai conhecia a
família toda, vários irmãos e uma única irmã, todos com nomes de personagens de
óperas, gostava de ressaltar. Romeu, Radamés, Iago e Maria. Que porra de ópera
tem uma Maria? Mas, vá lá. O restaurante era bom, lembro-me de haver comido
Camarões à Paulista, aqueles fritos com casca no alho e óleo, deliciosos.
Havia também a parte folclórica destas viagens.
Visitas a parentes de parentes, com identificações estranhas. A prima Clara do
Rio, que não era minha prima, mas das minhas, estas sim, primas, Clara e Suely.
Tinha um irmão cujo nome jamais lembrarei, nem vou tentar. Havia o primo
Nicola, que morava em Rio Comprido, e que também não era nosso primo, mas sim
primo de meu tio Nicola, pai da Sandra e do Walter. Mas ao dizer “Clara do Rio”
ou “primo Nicola” já se sabia de quem você estava falando.
Estas viagens eram uma quebra da rotina em que me
via envolvido. Deveria ter aproveitado mais, só não sabia como. Adorava viajar
com meu pai. Boa, Sr. Raphael!
Brinde especial:
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