segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Homem Centenário.





Na medida em que me aproximo do meu centésimo aniversário estou ficando com pouca paciência para algumas coisas, a bem da verdade quase todas. Não que a paciência estivesse em lugar de destaque no meu enorme rol de qualidades, mas a coisa está piorando. Antes que alguém diga que estou muito longe dos cem anos, quero lembrar que estou num ponto equidistante entre os quarenta e os cem e como não há volta, caminho, mais ou menos corajosamente, para meu improvável centenário. Estas manifestações de falta de paciência começam assim que ligo o rádio pela manhã em busca de novidades. Logo que ouço os informes sobre os acontecimentos mais recentes, as primeiras entrevistas com qualquer autoridade, as opiniões dos renomados comentaristas a respeito de qualquer assunto, sempre tem algum, um grupo de pensamentos recorrentes começa a ocupar meu miolo. Estes pensamentos aumentam de intensidade quando ligo o computador, dou uma internetada e vejo os destaques dos principais sites, portais, conglomerados, estas bostas. Além das notas sobre celebridades que desconheço totalmente, o que a mocinha injetou nos glúteos, quem está comendo quem, para que emissora vai aquele ou aquela que eu não faço a menor idéia de quem seja, as notícias costumam ser as mesmas que ouvi no rádio, o que reforça minha sensação de desânimo, além do sentimento de déjà vu. Ligar a TV só piora a situação, lá vem tudo de novo. E os pensamentos aparecem, implacáveis:

“puta que o pariu, não é possível que este corno tenha dito isto”; “tomar no cu, seu mentiroso”; “vão roubar assim na casa do caralho”; “meu Deus do céu, mas este cara é mesmo muito filho da puta”; “não é nada disso, seu imbecil”; e por ai vai.

Peço perdão aos sensíveis e eventuais leitoras e leitores, só quis mostrar o que me passa pela cabeça diariamente ao tentar me colocar a par das últimas notícias. Só consigo ver corrupção, bandidagem, estupidez, cagadas diversas, em todas estas mídias que me assolam. Estou ficando cansado disto tudo. Para piorar, minhas listas das coisas que eu gosto, eu posso, eu quero, estão diminuindo a olhos vistos, enquanto seus opostos, isto é as listas do que não gosto, não posso, não quero, aumentam exponencialmente. Nem a música, do que já gostei bastante, representa algum consolo. Aquelas que eu gostei, as velhas, já ouvi tanto que cansei, e das novas não consigo gostar, acho tudo muito ruim. Talvez se eu encontrasse uma atividade educativa que me ocupasse, tricô, crochê, culinária, artesanato, estas coisas, não me aborreceria tanto com assuntos sobre os quais, já sei, não posso fazer porra nenhuma. 


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