quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fazenda Pedra Branca - Prólogo.

Meu avô paterno, vô Pepe, foi um homem bem sucedido. Deve ter chegado ao Brasil entre 1910 e 1915, com uma mão na frente, outra atrás, uma mulher com uma filha pequena no colo, sem dinheiro, depois de chacoalhar numa terceira classe de um vapor por um mês ou mais. Não conheço detalhes de sua trajetória, nunca me contaram, mas sei que depois de algum tempo iniciou uma fábrica de máquinas, não sei se já havia trabalhado com isso na Espanha ou se aprendeu a profissão por aqui mesmo. A primeira Mecânica Aguilar foi na Rua do Lucas, no Brás. Pulando a parte que eu teria que inventar, por absoluto desconhecimento, chegamos à Rua do Gasômetro. Meu avô construiu uma bela área para a fábrica, mais de 1.000 m², com a casa da família no andar de cima. A casa tinha cinco quartos, duas salas, copa e cozinha gigantes, dois quintais, era enorme. E só tinha um banheiro, imenso, mas único. A construção foi muito bem feita, materiais e acabamento ótimos, uma beleza.


O tempo foi passando, meu avô foi trabalhando enquanto minha avó tinha filhos, dez no total. Durante a segunda guerra o mercado ficou favorável aos industriais locais e Don Pepe ganhou uma grana. Começou a construção de uma grande siderúrgica no Ipiranga, que já estava quase pronta quando a guerra acabou e o mercado virou, com os americanos despejando produtos siderúrgicos nesta América Latina a preço de banana. Vendeu sua parte, parece que tinha sócios, na tal siderúrgica para a Mannesmann, e foi ai que surgiu a Fazenda Pedra Branca, que entrou como parte de pagamento no negócio.



Fica quieto, peste!

Com cento e cinquenta alqueires, a Pedra Branca era em Itu, a cidade dos exageros. Isto deve ter sido por volta de 1954 ou 1955, pois quando lá fui pela primeira vez, com meu pai, eu teria perto de 10 anos. Chegamos no fim da tarde, não havia luz elétrica, não havia ainda a casa principal, só umas casas de colonos, bastante precárias, um frio de cacete, chovia, só eu e meu pai, aquela solidão. Chorei escondido, à noite.  Quando amanheceu a coisa começou a ficar melhor, mais divertida. Não sei bem quantos, mas havia alguns colonos com funções variadas, cuidando das coisas. Lembro-me bem de um tal Arnoldo, um cara grandão, com um monte de filhos, que cuidava dos animais, e que era bem simpático. Deve ter percebido que eu estava assustado e quis me tranqüilizar. Meu pai animou-se e pediu que encilhassem dois cavalos, um para ele e um para mim. Como assim?! Nunca andei a cavalo, não tenho a menor idéia de como se faz isso, fosse uma bicicleta, mas um cavalo? Fácil, explica meu pai – que era um bom cavaleiro, senta na sela, segura as rédeas juntas numa mão só, se quiser virar puxe a rédea do lado para o qual você quer ir, se quiser parar puxe as duas juntas, suavemente para não assustar o bicho, que pode empinar. Empinar?! Não subo nesta merda de jeito nenhum! Vamos lá, você vai gostar. Fui e não gostei, quase me borrei de medo nesta minha primeira experiência eqüestre. O cavalo estava vivo, virava a cabeça tentando me morder, não me obedecia nem a pau. Eu virava a tal rédea para um lado e o puto ia para o outro, queria parar e ele desembestava a correr, queria andar e ele não saia do lugar, tinha vontade própria o danado. Mais tarde acabei me tornando um razoável cavaleiro, com alguma habilidade na condução destes animais temperamentais, mas a primeira experiência foi um pouco assustadora.

Acho que vou parar, por hoje. As lembranças da Fazenda Pedra Branca são muitas e isto aqui é um Blog e não um romance. Na próxima postagem continuarei a partir daqui. Isto se eu não esquecer e mudar de assunto, é claro. Até mais.

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