terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Lembranças.

Sou egresso da Zona Leste de São Paulo, a denegrida ZL. Refugiei-me na Zona Sul há mais de quarenta anos, vinte e cinco dos quais no Brooklin, aonde moro atualmente. Nunca perdi totalmente o contato com o Belém, meu bairro de origem, já que a família da Patroa continua toda morando por lá e costumamos visitá-los de vez em quando.
Agora, por força de umas safenadas que deram na minha sogra, estamos passando uma semana em nosso bairro natal, para ajudá-la em seu retorno ao lar. Apesar de nunca ter perdido totalmente o contato, é só com uma permanência maior que algumas horas que você consegue observar melhor as mudanças que aconteceram e aquelas que estão em curso.
O Belém era um bairro predominantemente industrial, com algumas áreas residenciais, com enormes galpões que abrigavam fábricas que eram, naquela época, a joia da coroa do empresariado paulista. Matarazzo, Filleppo, Santista, Azis Nader, etc. Hoje em dia, tecelagens já não existem no estado de São Paulo, migraram para o Ceará ou para a China, e os galpões ficaram vazios. Degradaram-se, viraram estacionamentos, hipermercados, estas merdas, e agora foram descobertos pelos construtores de prédios de apartamentos. A Zona Leste começou sua redenção pelo famoso Jardim Anália Franco, bairro que não existe nos mapas da prefeitura. Aquela região chamava-se, na minha juventude, Vila Formosa, Vila Diva, estes nomes pejorativos que os migrantes costumam dar aos locais em que se instalam quando chegam a São Paulo. De repente, algum marqueteiro esperto, aproveitando os preços baratos de terrenos e casas da região, deu uma enfeitada no pavão, criou um belo nome de fantasia e começaram os empreendimentos imobiliários por lá. Hoje são comuns apartamentos de vários milhões de US$, em ruas que eram o cú-do-judas para quem conhecia a ZL.
Parece ter chegado a vez do Belém. Por todo o lado o que se vê são prédios de apartamentos em construção, com placas anunciando as maravilhas de uma varanda gourmet, o que quer que seja isso, aonde teu cunhado poderá tomar tua cerveja, comer tua picanha, dormir na tua rede e se indispor com teu vizinho, que te tratará mal pelo resto da vida. Quem mandou comer a irmã dele e, por remorso, convidar o energúmeno?
O comércio começa a abandonar a pasmaceira de séculos e lojas bacaninhas chegam para agradar à nova elite arrivista, afinal todo mundo gosta de uma Oscar Freire, né não?
O bairro está mudando, não há dúvida. Se pra melhor ou pra pior, não sei. O trânsito já começa a enlouquecer os moradores mais antigos, acostumados a molezas que nunca mais terão.
Resumindo: Acabaram com minha infância que, justiça seja feita, não foi grande coisa. Façam bom proveito.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pontes.

Pontes são magnificas, viadutos são mixurucas. Pontes ligam lugares que, sem elas, continuariam melancolicamente separados, viadutos transferem congestionamentos de um lugar para outro. Existem muitas pontes famosas: Golden Gate, em São Francisco; Dos Suspiros, em Veneza; Ponte Alexandre III e Ponte Neuf, em Paris; Ponte do Brooklin, em Nova York, Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro; Ponte Pênsil, em São Vicente; Ponte Estaiada, na Globo; e por ai vai. Viadutos, quando muito, ganham apelidos pejorativos: Minhocão, São Paulo; Cebolinha, São Paulo, Lá Vai Um, Rio de Janeiro; Viaduto Sonrisal, em João Pessoa; Mijadão, Brasília; devem existir apelidos piores, eu é que não conheço.
Há filmes famosos com nome de pontes: A Ponte do Rio Kwai, As Pontes de ToKo-Ri, As Pontes de Madison. Não conheço nenhum filme com nome de viaduto.
Mas hoje o que importa é a inauguração das Pontes de Dona Clara. Pra quem não sabe, Dona Clara é minha sogra e tem 85 anos de idade. Como quem procura, acha, Dona Clara achou entupimentos nas coronárias que só poderiam ser resolvidos com a construção de pontes de safena (revascularização, na linguagem dos deuses) ou mamárias para desviar o fluxo sanguíneo dos perigosos bloqueios e evitar o iminente infarto. Foi ao hospital, inicialmente para um cateterismo, aquele exame que enfiam um tubinho pela tua virilha e vão até o local do entupimento para olhar de perto. Graças à burocracia do plano de saúde, à lerdeza dos hospitais e à empáfia dos médicos, esperou uma semana pela porra do exame. Feita a avaliação veio a sentença: Dois entupimentos mortais, sem nenhuma possibilidade de tratamento que não fosse o das pontes. Dona Clara resolveu em dois minutos, heroica: Vamos fazer logo este negócio!
Saiu hoje da UTI, ainda grogue dos remédios e sob impacto do atropelamento por um caminhão, que é como definem esta cirurgia aqueles que já passaram por ela. Mas saiu animada, Dona Clara. Pergunta pelos netos, dá conselhos às suas tresloucadas filhas, preocupa-se se os acompanhantes comeram, estas coisas de mãe e avó. Espero que a convalescença seja breve e que ela logo esteja pimpona e lampeira, como é de seu feitio. De qualquer forma, o que fica desta situação é que Dona Clara é fodona, no bom sentido.


sábado, 30 de outubro de 2010

Festa da democracia!

Desde pequeno, muitas vezes sem entender o que se passava, escuto discussões sobre política. Quase sempre eram calcadas em “O seu candidato é mais ladrão que o meu” ou outras preciosidades parecidas. Ainda é assim. Erenice Guerra vale quantos Paulos Pretos? O candidato é veado? A candidata largou o marido e trocou por um milongueiro picareta? Sua mulher fez um aborto? A senhora matou quantos enquanto era guerrilheira? Deveriam lançar um álbum de figurinhas com candidatos, assessores, cupinchas, amantes, ex-maridos ou ex-mulheres, filhos ou filhas que cuidam do cofre, estas coisas. O álbum seria retirado no cartório eleitoral mais próximo e os pacotes com as figurinhas seriam comprados em bancas de jornais, sendo a arrecadação decorrente destinada a alguma ONG corrupta, do governo ou da oposição, tanto faz. Ao menos poderíamos nos distrair tentando completar o maldito álbum e trocando figurinhas, no bom sentido, com amigos e conhecidos. É claro que haveria um mercado negro dos cromos, valorizando as figurinhas mais difíceis. Daria mais sabor à coleção.
Quem conseguisse completar o álbum ganharia uma passagem para Brasília (de ônibus, é claro, afinal temos que zelar pelo dinheiro público!) para visitar o zoológico aonde vivem os políticos e poderia verificar para aonde vai o nosso dinheiro. A todo momento seria lembrado, por uma gravação da maravilhosa Iris Lettieri, que é permitido alimentar os animais. De preferencia com alimentos e bebidas importados.
Assim ao menos teríamos algum beneficio com as deprimentes campanhas eleitorais que assolam este pais. Seria divertido e, ao mesmo tempo, instrutivo. Os personagens poderiam ser classificados não só por partido mas também por categoria funcional. Ao pé do local em que deveriam ser coladas as figuraças haveria breves descritivos, tais como: - Assessor, responsável por arranjar desculpas esfarrapadas e contratar aloprados para a obtenção de dossiers; - Amante, mestrado no puteiro da Eny em Bauru, especializada na posição do canguru perneta; - Cão de guarda, treinado para revidar a ataques criando xingamentos terríveis e colocando em dúvida a masculinidade (ou feminilidade) do adversário (a); - Parente intelectualmente prejudicado, cuja única função é fazer merda e arrumar denuncias contra seu próprio candidato; e por ai vai.
Fica a ideia para o TSE, tão criativo na elaboração de propagandas que nos lembram a todo momento da importância do voto. Da inutilidade ninguém fala, né?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Eleições – Se correr o bicho pega...


Na época das eleições O TRE costuma divulgar inúmeras propagandas destacando a responsabilidade que recai sobre seus ombros. Como a língua portuguesa é madrasta, no mau sentido, esclareço: nos TEUS ombros, ocasional leitor, e não nos deles.

O filme atualmente em exibição mostra um jovem (nem tanto) deixando a casa paterna e partindo para encontrar seu destino em algum lugar distante. A mensagem destaca a importância do momento, bem como o sacrifício envolvido nesta situação. Lembra, principalmente, que a decisão tomada terá implicações em sua vida (tua vida!) por muito tempo.

Ao herói cabe, através de seu voto, salvar o país. Aleluia!

São filmes que apelam ao sentimento de culpa que, de uma forma ou de outra, todos nós carregamos. Querem dizer mais ou menos o seguinte: Nós, do TRE, fizemos nossa parte, se alguma coisa der errada a culpa é de vocês, cambada.



Vão se foder!



Como a legislação eleitoral brasileira, costurada à época da tão criticada ditadura militar e nunca modificada pelos políticos que vieram depois – não interessava mais, né putada?, procurou formas de manipular o congresso, tornando a representação no legislativo desvinculada do número de eleitores de uma região e criando uma relação direta com o número de unidades da federação, a coisa ficou esdrúxula, para dizer o mínimo. O estado de São Paulo, com cerca de 30 milhões de eleitores, tem o mesmo número de senadores que o celeiro da intelectualidade brasileira, o Acre, que não sei se chega a 1 milhão. Nada contra o estado natal de Adib Jatene, de Armando Nogueira, de Chico Mendes e de Marina Silva, mas meu voto deveria valer a mesma coisa que o dos nobres irmão acreanos, não concordam? Pois vale muito menos.

E esta é a menor das distorções de nossa espantosa legislação eleitoral. Não podemos impedir que notórios delinquentes sejam eleitos e tomem posse, não podemos retirar, no decorrer do mandato, o voto que foi dado a alguém que se demonstrou um grande filho-da-puta, não conseguimos evitar que chusmas de eleitores mal intencionados ou absolutamente desinformados elejam malfeitores para representar seus estados e que, tão logo chegam ao congresso montam quadrilhas para defender interesses espúrios, de grupos ou partidos. Na verdade podemos muito pouco.

Os partidos escolhem seus candidatos através de estratagemas de bastidores, de troca de favores, de chantagens e outras delicadezas. Nem o STF, que deveria ser a última defesa da Nação consegue manter o mínimo de ordem nesta bagunça. Ministros indicados por razões políticas, enterrados até o pescoço em compromissos pessoais e partidários, não conseguem agir de forma independente, vide a recente votação dada à lei da “Ficha Limpa”. Só faltou gritarem: “Cruz-Credo, tirem este bicho daqui!”, durante o julgamento do assunto.

De minha parte não aceito a parcela de responsabilidade que o TSE quer que eu assuma. Não com esta legislação eleitoral. Só me resta repetir: Vão se foder!


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Os mano e a mina.

- E ai mano, beleza?
- Beleza mano, só no trampo. Esta vida de cachorro-louco tá me matando, meu.
- Você reclama de barriga cheia, como se diz. Se não sabe do lance dos mano da mina?
- Que mano meu, que mina? Atropelaram ela? Neguinho fica dando bobeira e atravessando com o trânsito parado e ai, nois vem costurando no meio dos carro e, pimba, acerta uma distraída. Depois os pessoal reclama, mas ninguém se liga.
- Nada disso mano, tô falando dos mano que estão presos lá na mina, lá na Europa, na França, na Bolívia, no Chile, sei lá.
- Não tô ligado mano, qual é o lance?
- Seguinte: Faz um tempão que os mano tavam trampando na mina e, cabum!, a porra caiu tudo e os cara ficaram presos lá embaixo. Um puta buraco meu, mais de 600 metros de fundura. Acho que faz mais de três meses, sei lá.
- Cacete mano! E não morreu nenhum?
- Nenhum, percebe? Quando não é a hora neguinho não vai. Deus é que sabe.
- Mas e ai, já tiraram os cara?
- Nada meu. Não tinha como. Ai veio um monte de gente de outros lugares, até da NASA, saca, aquela dos astronautas, pra ajudar. Até agora nada.
- Puta-que-o-pariu, mano! Os cara tão lá até agora? E comida e água e banheiro, como é que faz?
- Acharam um esquema pra mandar água e comida pros neguinho, banheiro não sei. Devem fazer em algum cantinho. Parece que agora acharam um jeito de tirar os mano, meu.
- E qual vai ser o esquema?
- É da hora, meu. Inventaram um elevadorzinho minúsculo, enfiaram o bicho num tubo que vai até onde estão os mano e vão puxar um por um. A porra é mais apertada que passar no meio dos carro na 23 de Maio às 6 horas da tarde meu, vai ser foda! Vai ser um de cada vez e a viagem vai levar uma hora, se fosse nois era despedido, e tem que usar óculos escuro e roupa especial e tal.
- Nossa maluco! Tem muita luz no tal elevador, pra ter que usar óculos escuro?
- Que nada meu. É que os cara tão há tanto tempo lá embaixo que se sair pro sol sem proteção fica cego na hora, mano.
- Pensei uma sacanagem agora, se o nosso Ronaldo tivesse lá embaixo tava fodido, não ia caber no elevador.
- Só. Já pensou o Jô, iam ter que tirar pedacinho por pedacinho. Ia levar um ano, meu.
- Vamo rezar pra dar certo, né meu. A coisa parece complicada.
- É isso meu, os mano tão na mão de Deus, como sempre diz minha mãe quando saio pras entregas.
- É mano, só Deus pra resolver as paradas. Olha bro tô saindo que agora pego na pizzaria pra fazer os delivery que a grana tá curta.
- Eu também tô indo, tô fazendo um bico num bingo clandestino nos jardins, maior elegância meu. Sirvo os bacana no bar.
- Se liga mano.
- Vai na fé mano.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Final do Campeonato.

A situação do Serra é a seguinte: Imagine a finalíssima de um campeonato nacional de futebol, a ser decidido em dois jogos, o famoso ida e volta. Primeiro jogo, 4X0 para o adversário. Dilma Futebol e Regatas tem a seu favor o técnico, a torcida, o juiz, os bandeirinhas, o iluminador, o maquiador, o figurinista, o contra-regras, os músicos, o escambau.

O time de Serra não foi bem no campeonato. Empatou demais, jogo amarrado no meio de campo, nenhum talento no ataque. Desprezou as orientações do antigo treinador, se fingindo de surdo. Quando FHC, o ex-técnico, é citado, Serra desconversa. Finge que não é com ele. A torcida já percebeu isso e acha muita ingratidão, ora veja.

A hora H chegou, a cobra vai fumar, a onça vai beber água, a jabiraca vai piar, agora não dá mais pra jogar para o empate, fazer cera, por ai. Ou Serra vai pro jogo e arruma, nem que seja por empréstimo, alguns craques talentosos, ou depois não adianta dizer - “Fodeu!”. Tem que mostrar a que veio, no que é diferente, no que pode ser melhor. Tem que parar com esse papo de vendedor de aspirador de pó, mostrando as coisinhas que já fez quando era ministro, porteiro, governador ou presidente da UNE - aquela merda. Tem que arriscar cestas de 3 pontos, tacadas de 100 jardas, corridas para o touchdown ou para o home-run, estas coisas. Tem que mostrar coragem, que é o mínimo que se espera de alguém que quer ser presidente desta joça. Se é pra ficar alisando, mostrando boa educação, esperando a vez na fila, então deveria ter se candidatado a outra coisa, paraninfo da turma talvez.

Vai que é tua, Zé Serra!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Júnior.

Sempre me relacionei bem com crianças, e elas comigo. No bom sentido, esclareço, afinal não sou padre nem bispo, cruz-credo. Venho de uma família grande, sempre com uma criança pequena pelo meio, vieram três filhos e agora cinco netos. Pimpolhos nunca faltaram em minha vida, ainda bem.
Netos são um capítulo à parte, imagino que sejam uma espécie de bolsa-velhice que o Todo-Poderoso dá para compensar a juventude que tirou. Tem dias em que a troca vale a pena.
Esta convivência me deu alguma habilidade para cuidar dos pequenos, ficar atento aos perigos, distrai-los com histórias e conversas sem pé nem cabeça que, podem acreditar, eles adoram. Não sei como será à medida que crescerem, mas até agora os truques estão funcionando.

Por isso mesmo minha surpresa. Vinha pela rua quando escutei “Júnior, cuidado, espere a mamãe”. Decerto uma jovem com seu filho pequeno querendo evitar que o mesmo se machucasse, muito bem.
Júnior olha que é entrada de garagem, pode sair um carro”, “Júnior, não mexa ai que você vai se sujar”, e por ai vai. Chegávamos a um cruzamento e a ordem veio, rápida: “Júnior, espere a mamãe para atravessar a rua”.
Prestativo olhei para trás para ver se a tal criança estava muito distante da mãe, pronto a intervir se julgasse necessário. Fui, então, apresentado a Júnior, um cachorro pequeno, destes fazedores de merda peludinhos e com fitinhas amarradas nas orelhas, recém-saído de algum dos salões de beleza caninos tão comuns hoje em dia. Na outra ponta da cordinha estava uma quarentona de sessenta e poucos anos ligeiramente ofegante pelo exercício forçado e satisfeita com as gracinhas do animalzinho.
Antes de atravessarmos a rua, comentou: “Júnior dá um trabalho, é uma gracinha mas tenho que ficar de olho. O senhor tem cachorro?”. Na verdade tenho um cachorro virtual, chamado Seu Bosta, que uso em algumas postagens no twitter, mas ela não iria entender, então fiz a maldade: “Graças a Deus não”.
Ficou triste, a pobrezinha, e não me dirigiu mais a palavra. Não precisava ter feito isso, mas não me contive. Quem mandou chamar a porra do cachorro de Júnior? Eu, como avô em exercício, estava preocupado com aquele menino que andava atrás de mim e cuja mãe dava, a todo momento, conselhos cuidadosos. Fiquei decepcionado ao ver que não era um menino, não da raça humana pelo menos. Cada um para seu lado e eu pensando “Esta ai deve odiar o marido senão não daria o nome de Júnior para o cachorro”. Distraído, pisei em um resíduo canino deixado, provavelmente, por outro bicho com nome de gente.
Bem-feito, quem mandou ser malcriado.

   

domingo, 26 de setembro de 2010

No meu tempo é que era bom.

Pelo menos comigo é assim: Toda a história da humanidade anterior ao meu nascimento se resume a alguns livros escolares, algumas pesquisas enciclopédicas, alguns filmes duvidosos, e fica por ai. Milhares (milhões?!) de anos resumidos em poucas páginas e misturando-se no meu miolo. Platão, César, Galileu, Colombo, Santos Dumont, Einstein, estão todos amontoados em algum canto escuro do meu cérebro.

A partir do meu nascimento, porém, a coisa muda. Cada mês, cada ano, dariam material para vários compêndios, cada pequena situação tem a relevância da invenção da imprensa por Gutemberg. Isto se chama auto-referência, eu acho.

Por que esta conversa toda? Porque estava pensando, justamente, no início de minhas atividades profissionais, mais ou menos à época do Descobrimento da América ou da Proclamação da Independência do Brasil, próximo do tempo em que os bichos falavam.

A área chamava-se, então, Processamento de Dados. Depois virou Informática e , hoje em dia é conhecida pelo genérico Tecnologia, que não é só isso, mas vai convencer os marqueteiros das Casas Bahia ou do Magazine Luiza.


Raríssimas empresas tinham computador, monstrengos com 64K de memória, disco de 5 mega, uma porrada de máquinas para tratar com cartões perfurados (Ah! Não sabe o que é, né Mané?), e por ai vai. Para escrever usava-se as máquinas de escrever, com direito a carbono e tudo; para somar tínhamos calculadoras que pesavam mais do que eu (naquele tempo, é claro); fotos eram no estúdio do japonês na praça, gravar sons só com gravador de carretel. E telefonar, então? Era complicado, já que poucos tinham telefone e as ligações eram péssimas.

E ai olho pro meu celular. A porrinha faz tudo isso, e muito melhor. Acrescente-se a gravação de vídeos (impensável!), o envio de mensagens de texto ou multimídia (o quê?), GPS, leitura de jornais e busca de informações na Internet, esta coisa incompreensível.

Então, quando algum membro da pior-idade disser “No meu tempo é que era bom”, tenha certeza: É mentira! Quando muito é inveja. Vai por mim que eu sei do que estou falando.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Idiota!


É só começar a campanha eleitoral e passam a me tratar como idiota. Sem exceção, partidos da situação, da oposição, do ora-veja, do veja-lá, do dá-aqui-o- meu, todos acham que podem me enganar.

Candidatos que deveriam estar presos, mostram a cara na TV e fazem piadinhas com as eleições, velhos ladrões posam de gente boa, ladrões novos fingem indignação, um circo.

Juca Chaves, Tiririca, Leci Brandão, Netinho, Moacir Franco, Ronaldo Esper, Marcelinho Carioca, Mulher Pera, este elenco não serve nem para um programa vagabundo em uma emissora de quinta. E talvez alguns sejam eleitos, vê se pode. Depois vamos reclamar do congresso! Reclamar do quê, se foram eleitos por votos que valem tanto quanto o seu ou o meu?

E o Tuma!? Alguém acredita que demonstra apoio de todo mundo? Lula, Serra, Alkmin, Don Paulo Evaristo, Neném Prancha, todo mundo tem uma declaração de apoio à velha raposa, mesmo que sejam vídeos antigos, editados com esperteza. Vai pra casa, porra! Já não roubou o suficiente? Vai cuidar de seu filho delinquente. Segurança começa (ou deveria começar) em casa.

Depois vem com esta conversa de “Ficha Limpa”. Sei, Osório, são “Ficha Limpa” até surgir a primeira oportunidade de roubar, ai Pimba! Viram “Ficha Suja” depressinha.

Ouvi na rádio uma pesquisa em que 13% dos eleitores afirmam que venderiam seus votos, se pudessem. Como? Se pudessem? Já estão vendendo, há muito tempo. Bolsas diversas(Família, Gás, Escola, Ditadura, o cacete), são formas garantidas de conseguir votos para os que conseguem posar de donos destes programas sociais. Pra mim, o índice de eleitores que vendem os votos devem passar de 75% (chute, é claro).

E, no final, querem que eu vote em alguém para que o outro não seja eleito. Como é que é? Devo votar em quem não gosto para que outro, de quem gosto menos ainda, não seja eleito? Vão tomar no Difusor Traseiro, como diriam na Fórmula 1.



Rapaz, como a campanha eleitoral me irrita!



terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quem foi que descobriu o Brasil?

Primeira pergunta das aulas de história das crianças do meu tempo, era sempre respondida com o sonoro “Pedro Álvares Cabral”, que depois de enfrentar terrível calmaria teria avistado o Monte Pascoal, Bahia, em 22 de abril de 1500.

Mesmo que depois viéssemos a aprender que a coisa não tinha sido bem assim, que ele já sabia para aonde estava indo, que era tudo jogo de cena para enganar os espanhóis e ficar com boa parte do novo continente, o cacete, aquela imagem de um momento mágico e inesperado ficava na cabeça dos pimpolhos por muito tempo, ao menos na minha ficou.

E não é que estou tendo que aprender tudo de novo?!

Sou informado diariamente, pelas infindáveis propagandas do governo federal, que o Brasil só foi inaugurado após o início do governo de Luiz Inácio da Silva, vulgo Lula. Que antes desta data era um brejo de dar dó, sem nada que prestasse. Devíamos a Deus e todo mundo, coisa que, graças à engenhosidade de Sua Magnificência, já não ocorre. Não tínhamos estradas, nem serviços de saúde, muito menos escolas para nossos rebentos, que cismavam de rebentar a qualquer momento, já que não tínhamos nada melhor para fazer do que trepar e produzir filhos.

Foi então, que há cerca de 8 anos, o Altíssimo se apiedou desta chusma de desvalidos e nos enviou a salvação através de seu segundo filho: Lula, o Magnânimo.

E as escolas, estradas, hospitais, casas para todos, automóveis, alimentos começaram a brotar do chão como num efeito especial de Avatar, aquele filme azul. De devedores passamos a credores, todos querem nosso conselho nas divergências de opinião que há pelo planeta, a população nunca esteve tão feliz como agora. Às vezes tenho que enxotar de casa os médicos que querem me atender, mesmo que eu não tenha nenhuma queixa.

E vocês ainda tem dúvida de em quem votar? Santa paciência! Não perceberam que sem Sua Generosidade e seus Apóstolos poderemos refluir para a merda da qual viemos, voltando àquela condição pré-histórica? Vocês querem o fim dos milagrentos programas sociais que tanto ajudam nossos irmãos mais necessitados? Querem o fim deste gigantesco programa de desenvolvimento que tantas estradas construiu pelo Brasil, e que identificou a maior reserva de petróleo do universo, suficiente para gerar energia para todos pela eternidade, e que se encontra quase à mão, bastando encher o balde com o precioso óleo?

Então, às urnas cidadão, formem seus batalhões, marchemos, como no hino daquele país que tanto nos admira.

O quê? Não é bem assim? Então devo estar entendendo errado as mensagens que recebo. Vou revisar, depois aviso. Tchau!

sábado, 18 de setembro de 2010

Lançamento de produto.

O alarme instalado em uma empresa ao lado do prédio em que moramos vem causando muitos aborrecimentos a todos nós, já que o mesmo dispara a intervalos regulares durante todo o fim de semana. E ninguém faz nada a respeito visto que, é claro, o puto do dono da empresa está em outro lugar.

Pensando a respeito, após ser acordado por mais um toque do maldito artefato, gostaria de sugerir aos empreendedores da área de tecnologia o lançamento de novo produto que, por sua utilidade vai, seguramente, fazer sucesso em pouco tempo.

Trata-se do Alarme-Supositório, cujas principais características descrevo a seguir:

O dispositivo destinado à proteção em questão (Empresa, Casa, Carro, etc.) seria instalado normalmente, junto ao patrimônio que deve proteger.

A diferença estaria na forma de alertar aos responsáveis pelos cuidados com aquele bem. No lugar dos insuportáveis sinais sonoros e/ou luminosos normalmente utilizados, seria emitido inaudível sinal de rádio, ou de outra frequência mais adequada, que seria recebido pelo revolucionário Receptor-Supositório.

Este receptor seria instalado no RPT (receptáculo pessoal traseiro) do responsável pelo objeto a ser protegido, aonde os sinais recebidos seriam transformados em choques elétricos que seriam aplicados no local.

Caso o responsável estivesse usando o receptáculo para outras finalidades poderia pedir à sua mãe, sua mulher, sua filha, ou seja, a alguém se sua confiança, que portasse o artefato temporariamente.

Tenho certeza que levando choques no próprio rabo, as ações de investigação e desarme da porra do alarme seriam muito mais rápidas.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Agradecimentos, Advertências e Efeitos Colaterais.

Este Blog só foi possível graças ao estímulo e orientação de minha filha, que vê algum interesse nas besteiras que falo. Meus netos também acham o avô meio bobagento, mas os netos não contam, são pequenos ainda e gostam da gente de qualquer forma.   
Queria agradecer, também, a meus filhos, pais, professores, amigos e aparentados em geral por não terem me internado até agora, apesar de concordarem que tenho o miolo um pouco mole.
Agradeço, principalmente, àquela santinha que aceitou casar-se comigo e me atura há tantos anos. Talvez venha a ser canonizada, nunca se sabe. 
Convém esclarecer, nesta festa de inauguração, que as ideias que serão aqui apresentadas poderão conter palavras chulas, conceitos esdrúxulos, preconceitos diversos, ironias deslavadas e outras impropriedades.  
Recomenda-se seu uso com moderação, bem como evitar deixa-lo ao alcance das crianças. Pode ser referido em festas, convescotes, velórios e outros eventos sociais com baixo nível de responsabilidade. O uso concomitante com bebidas alcoólicas pode potencializar seus efeitos.
O pensamento que norteará os trabalhos deste espaço e de cujo autor eu, evidentemente, não lembro é:  
"O que me incomoda não é como as coisas são, mas como as pessoas pensam que as coisas são".
Bem-vindos, cuidado com os degraus.